Vinhos de terroir e um terraço romântico, na Quinta de Covela

Na Quinta de Covela, em Baião, visita e prova são personalizadas e conduzidas pelo próprio produtor. A conversa com Tony Smith não tem hora para acabar e demora-se de olhos postos nas parcelas de avesso e no rio Douro.

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Fora dos circuitos mais conhecidos, a Quinta de Covela, no berço da casta avesso, foi um dos primeiros produtores na região a acreditar nos vinhos de terroir. Passaram-se dez anos e hoje, “felizmente”, já são mais os projectos como aquele que Tony Smith e Marcelo Lima iniciaram em 2011, quando adquiriram a quinta situada na fronteira com o vale do Douro. Vale, por isso, a pena fazer a estrada que serpenteia até ao belíssimo anfiteatro natural onde a dupla trabalha o avesso “desdobrado em várias referências”.

A visita e a prova são personalizadas e é preciso fazer marcação, já que, por norma, os visitantes são guiados pelo próprio Tony Smith, que reside na quinta. A visita inclui o núcleo edificado, a adega e a vinha. As provas e a conversa acontecem normalmente no terraço principal, junto à loja e à sombra da ramada e dos ciprestes. “Tento sentir as pessoas, algumas querem saber mais dados técnicos, outras não”, resume Smith.

Da mesa comunitária conseguimos ver os vários pontos da quinta e Tony vai explicando que os solos são graníticos e que o anfiteatro natural permite ter uma boa exposição solar, numa zona dos Verdes que, apesar de “colada” à região vizinha, ainda é bafejada pelos ares do Atlântico. “Há uma fronteira de facto, pelo rio, a quatro quilómetros daqui. Marca o final de uma região e o início de outra. Nessa linha, acontecem duas coisas: muda o solo, deste lado, é granítico, do outro é xistoso. E o clima. Aqui ainda chega a influência do mar, para lá dessa linha já não.” A brisa faz-se sentir durante a conversa.

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Quinta de Covela, Baião

Almoçar, mergulhar e ali ficar

Se olharmos para norte vemos uma das vinhas de avesso mais recentes, onde outrora havia cabernet sauvignon. Vê-se também um cedro-do-líbano, rosas, uma nogueira. Mesmo à frente e abaixo da loja e da adega, um riacho atravessa a quinta e marca a paisagem. É por causa desse curso de água que vemos nessa zona árvores de fruto. Junto ao muro do terraço, há ainda uma horta e pouco abaixo a piscina que serve os proprietários, mas também os hóspedes da Villa Covela.

O alojamento fica no topo da quinta, junto ao caminho de acesso. Quando a casa não está alugada na totalidade (em época baixa, custa 2100 euros por semana), os quartos estão disponíveis, sob reserva mínima de dois quartos e duas noites.

Também se pode ali almoçar. Anabela, cozinheira e colaboradora da Covela, prepara refeições onde não faltam os hortofrutícolas da quinta, como o tomate-coração-de-boi, os figos ou a laranja.

A Covela é amiga das famílias. Por isso, nos meses de calor, se houver miúdos, e desde que um adulto no grupo se responsabilize por lhes deitar o olho, estes podem usar a piscina enquanto os crescidos fazem a prova de vinho ou almoçam.

Quinta de Covela, Baião
Sempre que possível, é o proprietário Tony Smith que guia a visita à Quinta de Covela.
Quinta de Covela, Baião
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Quinta de Covela, Baião

Provar a Covela

Nos vários vinhos provados, salta à vista o Covela Avesso Natur, o primeiro vinho sem sulfitos adicionados, de um produtor que tem certificação biológica desde 2018 mas que procurou desde o início esse selo. O vinho não é filtrado, o enólogo Rui Cunha usou flor de castanheiro da quinta, seca e moída – não é um “vinho natural”, Tony Smith prefere dizer que é “o mais natural possível”. Foram feitas mil garrafas, lançadas em Julho e esgotadas num ápice. Sobressai também o Covela Reserva Tinto [ver caixa abaixo], uma referência que foi descontinuada em 2014, mas que ainda se pode adquirir na quinta.

A quinta tem 36,5 hectares, 15 hectares de vinha, a maior parte avesso e arinto, mas também chardonnay, viognier e gewürztraminer, ao cuidado do feitor António, que já trabalha na Covela há 50 anos. E integra um universo que já conta com a marca Tecedeiras no Douro e a gestão das vinhas da Fundação Eça de Queiroz, vinhos que contam para uma produção anual de cerca de 200 mil garrafas e que também podem ser adquiridos na loja da Quinta de Covela.

A visita faz lembrar A Cidade e as Serras. Se dúvidas houvesse, a geografia do romance de Eça existe mesmo, na fronteira dos Verdes com o Douro.

Quinta da Covela
Rua de Mirão, Quinta de Covela, São Tomé de Covelas (Baião)
Tel.: 910502696
Web: covela.pt
Visita e prova (por marcação, visit@covela.pt): 25 euros (4 vinhos)
Almoço: 35 euros/pessoa (reserva prévia; mín. 4 pessoas)
Quarto duplo a partir de 95 euros por noite (mín. 2 quartos, 2 noites)


Este artigo foi publicado no n.º 3 da revista Singular.

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