Sustentabilidade: afinal de que falamos?

Nas décadas de 70 e 80 surgiram diversos alertas para a necessidade de garantir a satisfação das necessidades das gerações presentes sem, porém, negligenciar as gerações futuras.

É a palavra-chave ao dissertar sobre apoio ao desenvolvimento, vocábulo obrigatório se abordarmos o amplo tema da inovação e essencial quando, hoje, se fala do mundo business: sustentabilidade. Um termo que tem sido adotado de forma recorrente em ambientes tão diversos como o académico, o político e o empresarial. Mas, afinal, de que falamos?

Nas décadas de 70 e 80 do século XX, surgiram diversos alertas para a necessidade de incorporar os impactos ambientais e sociais da atividade humana nos modelos económicos tradicionais, numa perspetiva de garantir a satisfação das necessidades das gerações presentes sem, porém, negligenciar as gerações futuras. Este tema é reportado no relatório Bruntland das Nações Unidas, em 1987, falando-se pela primeira vez de Desenvolvimento Sustentável, não pressupondo a eliminação do lucro, pelo contrário, alertando para a necessidade de inclusão dos impactos ambientais e sociais na forma como o retorno económico-financeiro é gerado. A aplicação deste modelo nos setores privado, público e terceiro setor é designada por sustentabilidade, conceito que surge na sequência do anterior.

Em 2000, o mundo adotou os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), distinguindo países desenvolvidos de países em desenvolvimento e desafiando os doadores a procurarem melhorar a ajuda prestada, ao reestruturarem as políticas de cooperação, para que as metas estabelecidas para 2015 fossem alcançadas.

Em 2015, a III Conferência das Nações Unidas sobre o Financiamento do Desenvolvimento resultou na Agenda de Ação de Addis Abeba. Este ano ficará na História como o ano da definição, em substituição dos ODM, dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), levando os líderes mundiais a adotar uma ambiciosa agenda com vista à erradicação da pobreza e ao desenvolvimento económico, social e ambiental à escala global até 2030, conhecida como Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. A sua implementação pressupõe uma partilha de esforços inédita à escala global, entre todos os países e atores públicos e privados.

A resposta a todos estes desafios começara a ser dada anos antes, em 2005, quando o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, numa reunião com investidores, propõe formalmente três pilares norteadores, indicando como as empresas, e demais entidades, podem desenvolver-se de forma sustentável e com responsabilidade diante do mundo. ESG (Environmental, Social, Governance) é a sigla que todos conhecemos. Ela norteia muitas das decisões de desenvolvimento no mundo global, envolvendo todos os setores de atividade económica. O conceito integra fatores não financeiros relevantes, constituindo uma abordagem estratégica que permite analisar, planear e avaliar o desempenho em sustentabilidade. Investir de forma sustentável significa então incluir aspetos adicionais aos financeiros na tomada de decisão de investimento, mais especificamente fatores ambientais, sociais e de governança corporativa. Fica definido o pressuposto de contribuir para preservar o mercado e potenciar o retorno financeiro, num mundo mais justo para todos.

A sociedade e os stakeholders exigem cada vez mais informações sobre como as empresas administram as questões relacionadas com esta temática e é inegável que a reputação é impactada pela forma como se vive a dinâmica ESG.

Existe porém uma problemática inerente a esta matéria: como avaliar a sustentabilidade? A volatilidade dos critérios torna céticas algumas mentes menos favoráveis a estes temas. Cabe às entidades a criatividade de criar estratégias para viverem a realidade ESG e demonstrarem o seu impacto. E a criatividade abre portas à inovação. E todos estes conceitos se encontram numa encruzilhada nem sempre clara, mas que urge aprofundar.

Não se pode ignorar que a preocupação pelo desenvolvimento sustentável é global. É de todos e para todos a preocupação com o ambiente, a sociedade e a governação. E não somos ilhas. Nenhuma entidade (sobre)vive fechada em si mesma. Somos parte de um ecossistema em relação e de relações, e a sustentabilidade permite o equilíbrio dos sistemas que o constituem.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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