Marco Oliveira apresenta ao vivo o disco que gravou com José Mário Branco

Lançado em Maio, é apresentado finalmente em sala o álbum Ruas e Memórias, de Marco Oliveira, o último que José Mário Branco produziu. Este domingo no Teatro São Luiz, em Lisboa, às 20h.

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Marco Oliveira ADRIANO FAGUNDES

Já tinha sido apresentado em duas sessões, a primeira Teatro da Comuna e a segunda no Museu do Fado, mas só agora chega a uma sala de espectáculo o álbum Ruas e Memórias, de Marco Oliveira, produzido por José Mário Branco (1942-2019) e acabado de gravar horas antes de este nos deixar, subitamente, na madrugada de 19 de Novembro de 2019. O trabalho que os uniu (não apenas aos dois, mas também a Manuela de Freitas, companheira de José Mário Branco, que se envolveu em todo o processo) durante a concepção e gravação do disco, selou uma amizade que ficará para lá da morte. O concerto marcado para este domingo, às 20h, no Teatro São Luiz, em Lisboa, é por isso (conforme se lê na folha de sala) “dedicado a Manuela de Freitas e José Mário Branco”. No palco, com Marco Oliveira (voz, viola e direcção musical), estarão Ricardo Parreira (guitarra portuguesa), Carlos Barretto (contrabaixo) e José Peixoto (guitarra clássica), ex-Madredeus e membro do Lisboa String Trio (com Barretto), que tocou muitas vezes com José Mário Branco, ao vivo e em disco.

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Marco Oliveira e José Mário Branco durante ao processo de gravação do disco TIAGO FEZAS VITAL

No concerto, além dos treze temas de Ruas e Memórias, que será apresentado na íntegra, poderão ouvir-se (segundo o alinhamento da folha de sala) temas como Retorno (Pedro Caldeira Cabral), Bailarico algarvio (Martinho d’Assunção), Deambulações (Carlos Barretto), O andamento do tempo (José Peixoto), O presépio (Delfina Figueiredo), Canção de embalar (o Sol e a Lua) (José Peixoto) e Aqui me tens (Ana Sofia Paiva). A anteceder o tema Que é feito da mariquinhas, do novo disco, haverá uma rapsódia de fados a que Marco Oliveira deu o nome de Mariquinhas revisited.

Nascido em Lisboa, em 1988, Marco Oliveira já tinha lançado dois álbuns em nome próprio, Retrato (2008) e Amor é Água Que Corre (2016) e imaginara um terceiro centrado em Lisboa. Foi então que pensou em alguém como José Mário Branco para o ajudar na descoberta de um caminho, mas julgou que, por demasiado ocupado, ele não pudesse recebê-lo. Sondou então o engenheiro de som António Pinheiro da Silva, este pô-los em contacto e daí resultou o álbum Ruas e Memórias. No concerto do São Luiz, é precisamente António Pinheiro da Silva que irá assegurar o som. 

As apresentações anteriores do disco, ambas em Lisboa, foram feitas para plateias mais reduzidas, a primeira logo por ocasião do lançamento do disco, e que decorreu no dia 25 de Maio no Teatro da Comuna, à Praça de Espanha, e a segunda no Museu do Fado, dia 9 de Julho, com lotação esgotada. O showcase na Comuna, como disse Marco Oliveira em Maio ao suplemento Ípsilon do PÚBLICO, “foi importantíssimo para deitar tudo cá para fora. Montámos uma exposição com as fotografias do Tiago Fezas Vital que tínhamos guardadas de 2019, exposição essa que vai acompanhar também o espectáculo. E foi importantíssimo ter essas fotografias presentes e com aquela dimensão, num teatro onde o Zé Mário trabalhou tantos anos, e também por ser no dia do aniversário dele, 25 de Maio. A exposição é uma homenagem às lições dos mestres: ao ofício, à criação. E documenta aquelas últimas horas de alguém que está a dar tudo pela criação artística, pelo seu ofício.”

O mais recente single e videoclipe a ser publicado deste disco é Fado sem ti, com letra de Manuela de Freitas no Fado Menor do Porto (de João Black). A propósito dele, escreveu Marco Oliveira ao divulgá-lo: “Sempre admirei a escrita da Manuela de Freitas para fados tradicionais. A primeira vez que li o Fado sem ti e escutei a encenação musical que o José Mário Branco preparou para o Fado Menor do Porto, senti um desconforto, uma sensação de desamparo. A melodia estava lá, mas os instrumentos não cumpriam o acompanhamento tradicional. A fala de uma pessoa a tentar enganar-se a si mesma, num acto de desespero; a impotência de nada conseguir perante o abismo petrificante do amor; um amante que se desnuda enquanto vai mentindo a si próprio. Tudo isto condensado e misturado naquele arranjo musical. O fado não é mais do que este conflito interior, esta voz de revolta que escutamos enquanto a cidade continua no seu ritmo quotidiano.”

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