Mais lesados do BES admitem recurso ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem

Mais lesados do BES ponderam seguir o exemplo de um padeiro que perdeu 100 mil euros no banco e avançou para justiça europeia. Emigrantes voltam aos protestos em Paris, a pensar no futuro Governo.

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Emigrantes continuam a manifestar-se contra perda de poupanças Rui Gaudencio

Os lesados do BES na comunidade portuguesa em França manifestaram-se este sábado junto da Embaixada de Portugal em Paris para avisar o futuro Governo que vão continuar a lutar pela restituição integral dos produtos financeiros tóxicos. Em causa a recuperação das aplicações no Euro Aforro 10, queixando-se que após negociações com o Governo apenas conseguiram reaver 10,9% dos valores que detinham, uma percentagem muito abaixo do que outros clientes conseguiram, que chegou até 90% em alguns casos.

Muitos destes emigrantes ainda têm processos a correr na justiça em Portugal, contra Ricardo Salgado, bancos e autoridades bancárias portuguesas, mas chegando ao fim dos recursos, sem o resultado esperado, admitem avançar para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, seguindo o exemplo recente de um padeiro de 61 anos, lesado em 100 mil euros aplicados no BES, avançou à Lusa Carlos Costa dos Santos, coordenador dos Emigrantes Lesados Unidos (ELU), em declarações à Agência Lusa.

“Estamos à espera de usar todos os poderes a nível dos tribunais em Portugal. Haverá mais pessoas que vão atrás dele para Bruxelas, porque em Portugal a Justiça é lenta e o pouco que sai, é contra nós”, referiu aquele responsável.

Carlos Costa dos Santos denunciou ainda que como os tribunais portugueses não lhes deram razão num dos processos contra o BES, há emigrantes que estão a ser “penhorados” para pagar os advogados desta instituição bancária, causando dificuldades acrescidas na vida destes lesados.

“Estamos aqui neste novo protesto para dizer aos políticos em Portugal que o nosso caso não está resolvido. [...] Isto é uma mensagem no fim de 2021 para o futuro Governo, que vai ser eleito em Janeiro”, referiu o coordenador dos emigrantes, acrescentando que, “desde já está prevista uma manifestação no dia 29 [de Janeiro], neste mesmo sítio, porque no dia seguinte são as eleições em Portugal.

O objectivo de mais um protesto é reaver a totalidade dos depósitos dos emigrantes junto do BES, especialmente o produto Euro Aforro 10.

Maria de Lurdes Monteiro, emigrante em França há 44 anos, tinha 145 mil euros no Euro Aforro 10, embora garanta que sempre lhe tenha sido dito que se tratava de depósitos a prazo.

“Eu fui sempre convencida que eram depósitos a prazo. Eu não sabia que tais produtos existiam. A mim nunca me falaram nem de Euro Aforro 10, nem Poupança Plus. Eram depósitos a prazo garantidos. Tinha confiança no banco, era cliente desde 1985”, indicou.

Com a queda do BES, o sonho de Maria de Lurdes Monteiro de regressar a Portugal também terminou, já que se diz desiludida com o país, detendo agora o dinheiro que conseguiu recuperar em França e não pensando voltar a terras lusas.

“O que pude recuperar vem para França. Foi aqui que eu trabalhei, os franceses receberam-nos de braços abertos, privei-me para juntar esse dinheiro. Faço aqui a minha vida e não ponho nem mais um cêntimo em Portugal. [...] Agora só tenho raiva desse país que não faz nada pelos emigrantes”, declarou a lesada.

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