EUA e Rússia preparam encontro entre Biden e Putin com Ucrânia na agenda

Washington e Moscovo negoceiam data para cimeira por vídeo-conferência numa altura em que os Estados Unidos se mostram cada vez mais preocupados com as actividades militares russas na fronteira com a Ucrânia. Ministro da Defesa ucraniano teme ofensiva no fim de Janeiro.

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Biden e Putin encontraram-se em Junho em Genebra DENIS BALIBOUSE/EPA

Os Estados Unidos e da Rússia estão a preparar um encontro por vídeo-conferência entre os presidentes dos dois países, Joe Biden e Vladimir Putin, que deverá realizar-se ainda este mês. Esta sexta-feira, o Kremlin anunciou que já há uma data em cima da mesa para o encontro, que está dependente da aprovação de Washington.

"Estamos a trabalhar para chegar a um acordo sobre a data exacta”, explicou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, avançando que a reunião “poderá realizar-se em uma ou duas semanas”. Será a continuação do encontro realizado em Genebra a 16 de Junho, o primeiro desde a chegada de Biden à Casa Branca em Janeiro.

O principal assessor de Putin em questões internacionais, Yuri Ushakov, disse, por sua vez, que os dois líderes falarão “nos próximos dias”. Entre os temas a serem discutidos, citou a pandemia de covid-19, a luta contra as alterações climáticas ou o mercado de energia, embora da agenda deva constar também a mobilização militar russa na fronteira com a Ucrânia.

Esta sexta-feira, os EUA voltaram a verbalizar a sua preocupação com as actividades militares da Rússia perto da Ucrânia pela voz do chefe do Estado-Maior Interarmas dos Estados Unidos, general Mark Milley, para quem a retórica russa parece “cada vez mais estridente”.

Em declarações à agência Reuters num voo de regresso de Seul, onde acompanhou o secretário da Defesa, Lloyd Austin, o general Milley sublinhou a importância da soberania da NATO para os EUA e para a NATO. Kiev, Washington e vários responsáveis ocidentais acusam Moscovo de ter reunido perto de 100 mil soldados e equipamento pesado junto à fronteira ucraniana. Na quinta-feira, durante um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, assegurou que “haverá consequências sérias” se Moscovo decidir “entrar em confronto”.

“Há interesses de segurança nacional significativos dos EUA e dos Estados membros da NATO em jogo se houvesse uma acção militar agressiva dos russos”, afirmou Milley, recusando especular sobre as opções que poderão ser consideradas caso a Rússia decida, uma vez mais, invadir a Ucrânia. O Kremlin anexou a Crimeia em 2014 e apoia desde então rebeldes separatistas que combatem o Governo ucraniano no Leste do país – nos confrontos de quinta-feira foi morto um soldado ucraniano, diz Kiev, que estima em 14 mil as vítimas do conflito.

Kiev teme uma ofensiva no fim de Janeiro, disse esta sexta-feira no Parlamento o ministro da Defesa, Oleksii Reznikov. “As nossas análises cobrem todos os cenários, incluindo o pior”, disse Reznikoy. “A probabilidade de uma escalada em larga escala da Rússia existe. O momento mais provável para alcançar a prontidão para essa escalada será o final de Janeiro.”

Blinken já denunciara movimentos de tropas “pouco habituais” perto da fronteira russo-ucraniana, enquanto a União Europeia tem falado de “informações muito preocupantes”.

“Não vos vou dizer o que é que monitorizamos e quais são os indicadores ou os avisos do ponto de vista da informação”, afirmou o general, sugerindo que as suas preocupações não se limitam ao número de tropas russas estacionadas na zona. “Há dados suficientes para nos causar muita preocupação.”

A Rússia tem procurado garantias de que a NATO não vai admitir a Ucrânia como membro nem colocar no território ucraniano sistemas de mísseis que possam tomar Moscovo como alvo. Lembrando que “a infra-estrutura” da NATO já chegou às suas fronteiras, com “sistemas antimísseis mobilizados na Polónia e na Roménia”, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse esta semana que “se aparecerem novos complexos de mísseis em território ucraniano, o seu tempo de voo a Moscovo será de sete a dez minutos, e no caso de armas hipersónicas, de cinco”.

O general Milley também recusou especular sobre se Putin poderá ter-se sentido encorajado pela retirada americana do Afeganistão, ordenada pelo Presidente, Joe Biden, em Agosto, e que permitiu o regresso dos taliban ao poder no Afeganistão. “Penso que seria um erro para qualquer país retirar uma conclusão geral estratégica baseada na retirada dos EUA do Afeganistão, considerando que esse facto se aplicaria imediatamente a outras situações”, afirmou. “Os EUA podem ser um país difícil de compreender.”

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