Os pais devem ser a claque de apoio!

Saber lidar com a frustração de não conseguir ou falhar é uma aprendizagem útil para toda a vida escolar e não só na escola. Não nos esqueçamos de que, num percurso regular médio, serão 17 anos de escolaridade. Quase duas décadas!

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"Cabe aos pais uma maior atenção e não só evitar a tentação comum da comparação, tantas vezes injusta, com a nota do ou da colega" Sofatutor/Unsplash

Com a aproximação da época de testes, pais, alunos e professores entram em “estado de parafuso” sem que tal se justifique. Defendo-o como docente especialista e, mais relevante ainda, baseada na experiência adquirida ao longo de várias décadas de ensino, do básico ao superior. Hoje, dedico este desafio reflexivo aos pais dos “aprendizes do século XXI”, que se encontram a frequentar os 3.º e 4.º anos de escolaridade básica e iniciam/iniciaram a época dos testes.

O papel desempenhado tradicionalmente pelos testes, dada a sua associação a um ensino que continua ainda a ser demasiado expositivo, tem sido o de verificar se os alunos conseguem “reproduzir com fidelidade” aquilo que os professores expõem, para que, no final do período, lhes seja atribuída uma avaliação sumativa.

Ora, o problema não reside em usar ou não os testes, mas, sim, na forma de os utilizar e no modo como os pais/encarregados de educação também lidam com estas situações.

Os testes constituem apenas um dos muitos instrumentos que os professores dispõem para recolher a evidência da aprendizagem dos seus alunos, muitas vezes com erro de medida, uma vez que existem aprendizagens que este tipo de testes não aferem.

Os alunos têm de ser levados a compreender que os testes são momentos de reflexão, em que revêem as suas aprendizagens e identificam os seus pontos fortes e as suas fraquezas, devendo focalizar-se nestas com vista à melhoria. Chamemos-lhe uma “análise swot para pequeninos”.

A avaliação deve ser encarada como meio para um fim e não como o fim em si mesma, sabendo que muitos dos pressupostos que pretendemos medir não são objectiváveis, visíveis ou mensuráveis, pois não permitem avaliar o desenvolvimento de capacidades, destrezas, valores e atitudes e, que poderiam contribuir para a destrinça entre um aluno dito “suficiente” e um dito “bom”.

A pressão na altura dos testes – não sendo estes mais do que “fichas de avaliação” promovidas a uma etiqueta mais pomposa – leva a uma outra abordagem: a importância do equilíbrio emocional das crianças, que por esta ocasião as faz aumentar os níveis de ansiedade.

Mas, perguntar-se-á: então não devem começar a gerir a pressão? Sim, devem. Mas tudo a seu tempo e a um ritmo, muitas vezes, não aplicado…

Por algumas destas razões, os comportamentos das crianças variam nos dias que antecedem e precedem os “dias dos testes” e só estabilizam depois de saberem que classificação obtiveram.

Por vezes, o estado de ansiedade, que consiste em sentimentos de tensão, apreensão, nervosismo, falta de sono, irascibilidade, xixi na cama, não encontra por parte dos pais/educadores uma razão aparente. Mas ela pode estar lá.

Não desejo que se depreenda que nego a realização dos testes avaliativos e formativos. Nada disso.

Importa que, desde o início do percurso escolar, os alunos compreendam e desenvolvam competências que os levem a conviver saudavelmente com o processo de avaliação e monitorização do seu processo de ensino-aprendizagem, e também com as metas escolares mais exigentes que a progressão e o rendimento escolar colocam.

Há, porém, que entender estes momentos, mesmo que importantes, como mais um episódio no dia-a-dia da escola. Permito-me rematar este meu ponto de vista citando, ainda que adaptada, a conhecida frase do Presidente Jorge Sampaio: “Há mais escola para além dos testes.”

Cabe aos pais uma maior atenção e não só evitar a tentação comum da comparação, tantas vezes injusta, com a nota do ou da colega, como também não demonstrar desalento, compreensível, mas que magoará e culpabilizará a criança mais do que a sua própria frustração de não ter sido bem-sucedida.

É normal que os pais, por desejarem o melhor para os seus filhos, queiram que eles obtenham bons resultados escolares e, quando não se verificam, é também normal que isso seja motivo de frustração.

Saber lidar com a frustração de não conseguir ou falhar é uma aprendizagem útil para toda a vida escolar e não só na escola. Não nos esqueçamos de que, num percurso regular médio, serão 17 anos de escolaridade. Quase duas décadas!

Todos erramos e falhamos. Se não correr bem, não será um drama. Correrá melhor da próxima vez. Importa é trabalhar para que tal não se repita. O que exige paciência e resiliência. Estudar é, em si, um ato solitário. Exige empenho e motivação para superar as barreiras que possam existir e que condicionam o normal processo de aprendizagem.

E o encorajamento? Não nos esqueçamos de que o incentivo e o elogio não são para ser usados apenas nos sucessos, são também, e especialmente, nos insucessos.

As avaliações insuficientes representam oportunidades para transmitir ao seu filho/educando a convicção de que os resultados que obteve não o definem enquanto pessoa, e muito menos afectam as suas capacidades e competências.

São ensejos para lhe mostrar que acredita que ele vai conseguir. Para além disso, esta pode ser a chave para que o seu filho não se sinta pressionado nem desvalorizado e ganhe a confiança e tranquilidade necessárias para melhorar os seus resultados.

E é nesta altura que ele mais precisa que os pais o apoiem, o ajudem a levantar a cabeça, a persistir e a procurar dar o seu melhor. Aproveitem estas ocasiões para lhe comunicar que o mais importante é o processo, o esforço, o empenho e a dedicação dele, não tanto o resultado. Nestas e noutras situações, os pais devem ser a “claque de apoio”.

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