Os “clássicos” trocados de Jesus e Amorim

Os dois treinadores estiveram muitas vezes do lado contrário ao que defendem agora. E durante sete épocas estiveram os dois do mesmo lado.

sporting,sl-benfica,desporto,jorge-jesus,i-liga,futebol-nacional,
Fotogaleria
Rúben Amorim
sporting,sl-benfica,desporto,jorge-jesus,i-liga,futebol-nacional,
Fotogaleria
Jorge Jesus

Benfiquista desde pequenino? Rúben Amorim, antigo médio de muitas épocas na Luz, nunca o negou. E nunca fugiu a essa pergunta, mesmo no dia em que foi apresentado como treinador do Sporting. E Jorge Jesus? Também nunca escondeu a dimensão emocional da sua ligação aos “leões” de Alvalade, clube que representou no início da sua carreira de jogador (e, depois, como treinador), tudo “culpa” do pai, Virgolino Jesus. Essa ligação afectiva de Amorim ao Benfica e de Jesus ao Sporting fez com que ambos já tivessem estado no lado contrário do que defendem agora. E ambos foram muitas vezes adversários do clube que agora representam.

Boa parte da formação de Rúben Amorim como jogador foi no Benfica – só não fez mais porque João Vale e Azevedo fez downsizing nas camadas jovens dos “encarnados”, com Rúben Amorim como um dos dispensados. Podia ter ido para o outro lado da Segunda Circular, chegou a estar à porta de Alvalade, mas o seu benfiquismo não o deixou entrar. Acabaria por voltar à Luz pela porta grande, como um médio polivalente de grande utilidade que chegaria à selecção nacional. Foi no Belenenses (e com Jorge Jesus) que Amorim cresceu antes de reentrar no Benfica (onde também iria ter JJ como treinador).

Como jogador, Rúben Amorim defrontou 18 vezes o Sporting ao serviço de três clubes diferentes: Belenenses, Benfica e Sp. Braga. Ganhou oito vezes, empatou quatro e perdeu seis, foi titular em 13, cumprido os 90 minutos em seis. Desses jogos, 11 foram com a camisola do Benfica e só perdeu uma vez – ganhou sete vezes e empatou três.

Não marcou qualquer golo em todos os confrontos com os “leões”, mas Amorim nunca foi um jogador que marcasse muitos golos. Esteve ligado ao Benfica entre 2008 e 2015, cumprindo quatro épocas completas na Luz (e duas meias temporadas), com um empréstimo de ano e meio ao Sp. Braga. Do seu tempo de jogador, ainda subsistem no plantel “encarnado” André Almeida e Pizzi.

Amorim trabalhou durante muitas temporadas com Jorge Jesus, primeiro no Belenenses, depois no Benfica. De Amorim, Jesus chegou a dizer que era o jogador que melhor o conhecia, e Amorim indicou-o como uma das suas influências quando estava a dar os primeiros passos como treinador. Mas não ao ponto de querer ser um treinador igual a ele, como confessava numa entrevista ao jornal Expresso, em 2017: “Trabalhei muitos anos com ele e é óbvio que o meu nível de exigência é um bocadinho parecido com o dele […]. Mas não serei um treinador como ele porque temos feitios diferentes.”

Já nesse tempo, Jesus tinha a sensação de que Amorim iria dar em treinador. “Senti que podia haver ali jogadores que poderiam dar treinador no futuro, foi o caso dele e do Silas. Tem feito um bom trabalho e o facto de o Sporting chegar aqui como vencedor do último campeonato demonstra o valor do treinador e da equipa”, contou o treinador “encarnado” na conferência de imprensa de antecipação a este derby, revelando ainda um detalhe interessante sobre a relação de Amorim com o 3x4x3: “Já era um sistema em que ele gostava de jogar.”

Jorge Jesus, em nome do pai

Antes de todos os títulos e toda a fama associada, Jorge Jesus foi um futebolista aprendiz no Sporting, onde chegou pela mão do seu pai, Virgolino Jesus, antigo avançado dos “leões”, contemporâneo dos “Cinco Violinos”. Jesus apenas cumpriu uma época nos seniores do Sporting, mas ainda deu para defrontar uma vez o Benfica, a 28 de Dezembro de 1975. Nesse derby da 14.ª jornada, Jesus começou no banco e foi lançado pelo técnico, Juca, aos 28’, para o lugar do lesionado Manuel Fernandes, saindo, depois, aos 80’, para entrar Baltasar – esse jogo terminou num empate sem golos.

Quarenta anos depois, já com muitos títulos no currículo ao serviço do Benfica, Jesus trocou a Luz por Alvalade, citando o pai como o principal motivo para mudança. “O meu pai pediu-me para treinar o Sporting. E foi assim. Ele, coitadinho, nunca viu”, contou Jesus. O técnico amadorense esteve três épocas em Alvalade, mas só conseguiu ganhar ao Benfica na primeira temporada (2015-16). Ganhou os três primeiros confrontos, mas acabaria por perder o quarto – nesse jogo, o Sporting perdeu a liderança do campeonato e nunca mais a recuperou. Nos dois anos seguintes, teve três empates e uma derrota.

Sugerir correcção
Comentar