Rendeiro falido e cheio de dinheiro, o indulto, as saudades das cadelas e a Justiça

O nosso espantoso Presidente responderia a quem fora de tempo exigisse um indulto para regressar? O Presidente despacha sobre indultos inexistentes? E que diz ele das saudades das cadelas?

Quando um(a) cidadão(ã) se senta no banco da sala de audiências, frente ao juiz, há, desde aquele simples momento, uma espécie de um mundo invisível que percorre o julgador, mesmo que seja no domínio do inconsciente. Não se vê, mas está lá, como a alma ou o espírito, presente na atmosfera da sala do julgamento, no modo como certos arguidos colocam as palavras e as adoçam.

Alguém bem vestido, de boas maneiras, cortês gera no tribunal uma atitude de perplexidade, mesmo que sem esse propósito. No fundo, é alguém que os juízes podiam ter conhecido nos bancos da faculdade.

Quando, por outra banda, alguém se senta no mesmo banco mal vestido, de maneiras mais ou menos rudes, de acordo com as famosas regras da experiência comum, é algo que se aceita que possa acontecer.

Não é, em geral, uma atitude consciente e premeditada; é a condição humana a funcionar de acordo com o que apreendeu consciente ou inconscientemente desde o berço à universidade e à vida.

Um banqueiro é polido. Licenciado. Bem-falante, melhor vestido e engravatado e sapatos a condizer.

Este mundo não foi feito para os de cima se sentarem no banco dos tribunais, onde normalmente se sentam os de baixo.

Aliás, tenha-se em conta que, neste país de vivaços, os banqueiros aguardam anos e anos para serem julgados e antes de o serem ficam loucos ou morrem ou fogem.

Há quem defenda que o mal está nos recursos, como se o mal nos incêndios estivesse nas florestas e árvores. O mal está em empobrecer de tal modo a máquina judiciária que o longo tempo de decisão se torna uma marca inultrapassável e desprestigiante, mas nunca inevitável, bastava para tanto alocar meios. A justiça não dá votos, logo não é importante.

A justiça, pilar básico do Estado de direito democrático, está de rastos e não acontece nada. Todos, inclusive os magistrados, independentemente do brio profissional, já perceberam que este país aceita nesta matéria quase tudo. Esperar 10 anos por uma sentença. Pagar custas caríssimas. Aguardar anos e anos pelas decisões dos recursos. E nada acontece. Nem um tremelique, quanto mais um sobressalto. Num país de gente cordata, a cerviz tanto baixa como sobe, tudo depende de quem está à frente.

Há menos de dez anos os juízes mereciam a confiança dos portugueses. Hoje já não a merecem. Dá que pensar.

Na verdade, desacreditar a justiça é meio caminho andado para instaurar o clima de medo e de desconfiança nas instituições democráticas. É o objetivo da extrema-direita e dos criminosos. Uma justiça que se faz notar como sendo molinha com todos os Rendeiros inspira desconfiança. É um sintoma de uma peste que corrói a alma e a esperança de Portugal e não só.

Os Rendeiros de todas as espécies ao espezinharem a justiça gozando com tudo e com todos, a começar pelos próprios juízes, estão a matar a justiça que devia fazer parte do pão nosso de cada dia.

O banqueiro escarneceu do país quando anunciou à CNN que iria processar o Estado português devido ao atraso da justiça. Ele, que jogou tudo com a sua equipa de advogados na lentidão da justiça, anuncia uma ação contra o Estado. É próprio de um criminoso recalcitrante, incapaz de se colocar na ordem jurídica vigente, um fora da lei.

Os gestos, as palavras adocicadas, a vestimenta e os modos na frente dos juízes são parte da máscara usada para conseguir enganar o tribunal e ficar com o passaporte e viajar quando e como quis.

Seria possível acontecer com um desconhecido? O nosso espantoso Presidente responderia a quem fora de tempo exigisse um indulto para regressar? O Presidente despacha sobre indultos inexistentes? E que diz ele das saudades das cadelas anunciadas à CNN por Rendeiro? Com os diabos, afinal é mesmo assim, um banqueiro é um banqueiro, um homem cheio de dinheiro, mesmo dizendo-se falido

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