As bibliotecas são catedrais do conhecimento

Alguns dos tesouros mais preciosos da literatura portuguesa estão agora ao alcance do grande público. De Camões a Manuel Alegre, são 12 as réplicas dos livros originais que o PÚBLICO lança, em parceria com a editora A Bela e o Monstro e com apoio da The Navigator Company, na Colecção Ex-Líbris – Tesouros das Bibliotecas de Portugal. Uma exaltação da literatura portuguesa e dos seus tesouros.

Rhytmas, de Luís Vaz de Camões, Grammatica da Lingoagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira, ou A Praça da Canção – Dactiloscrito, de Manuel Alegre. É indiferente procurar uma relação directa entre estes três livros e seus autores. Os livros estão todos ligados (e, por consequência, os autores). Além de princípio, meio e fim, os livros contam histórias. E todos gostamos de uma boa história. A Colecção Ex-Líbris - Tesouros das Bibliotecas de Portugal recolhe 12 volumes de algumas das obras mais significativas da literatura portuguesa, numa iniciativa do PÚBLICO, em parceria com a editora A Bela e o Monstro e com o apoio da The Navigator Company.

Para poder aceder a estas raridades, foi fundamental a parceria com o Palácio da Ajuda/Biblioteca da Ajuda – bem como com diversos monumentos e museus sob a tutela da Direcção-Geral do Património Cultural. Quinzenalmente, às sextas-feiras, é lançado um exemplar das obras seleccionadas, agora publicadas em edição fac-similada em capa dura. A Colecção Ex-Líbris - Tesouros das Bibliotecas de Portugal revela estes tesouros, desconhecidos para muitos, graças à colaboração das 12 bibliotecas envolvidas neste projecto pioneiro.

O propósito é dar a conhecer essas raridades ao grande público, através da reprodução fiel dos livros originais. A colecção serve, ainda, para sublinhar o papel de relevância fundamental das bibliotecas em Portugal, mesmo que estejamos a viver tempos mais digitais. Todas as bibliotecas são locais que nos trazem memórias, nos ajudam a fabricar novos cenários, ganhar mais conhecimento, abrir horizontes. Por isso, constituem parte vital de uma cultura que se deseja activa.

Uma palavra que vale mil imagens

E se uma palavra valesse mil imagens? Pensemos numa prosa histórica, num poema épico, numa obra tão marcante que, apenas pelo nome, nos leve de imediato para uma série de imagens. Folha em Branco/Ex-líbris é um filme com uma “perspectiva muito poética” acerca do livro. Através das impressões recolhidas nas 12 bibliotecas e nos 12 livros, o autor e realizador do filme, Diogo Machado Ferreira, regista o processo de produção de um livro: desde a origem do papel até aos detalhes da encadernação. A folha em branco surge como símbolo inicial das mais variadas criações artísticas, ao mesmo tempo que se celebra a produção e circulação permanente do conhecimento trazido pelos livros – desde sempre guardado e protegido nas bibliotecas. As “mil imagens” deste vídeo estão baseadas em artes como a ilustração, animação, performance, poesia, cinema e música… tudo em nome da palavra.

Mesmo estando perante uma tarefa complicada, de mostrar em pouco mais de cinco minutos toda a riqueza desta colecção, Diogo Machado Ferreira até se sentiu em casa. “Desde muito pequeno que frequentei bibliotecas. A minha mãe trabalhava na Biblioteca Municipal de Guimarães e passava lá as férias grandes vendo filmes, conhecendo livros, frequentando oficinas de olaria, de bordados, entre outras actividades.”, revela o autor e realizador. Um dos momentos mais marcantes das filmagens foi quando teve a oportunidade de ter nas mãos o original de Rythmas – na Biblioteca D. Manuel II, Museu-Biblioteca da Casa de Bragança, em Vila Viçosa. É um exemplar da primeira edição dos poemas líricos de Camões, impresso em 1595 na tipografia de Manuel de Lira em Lisboa, à custa do livreiro Estêvão Lopes. É uma reprodução deste exemplar, adquirido para a sua Camoniana pelo rei D. Manuel II, que agora se apresenta ao leitor do PÚBLICO.

“Esta democratização dos livros é muito positiva”, resume Diogo Machado Ferreira, que revela ter-lhe sido dada “carta-branca” para elaborar este trabalho de apresentação da Colecção Ex-Líbris - Tesouros das Bibliotecas de Portugal. “Pretendi realçar esse lado de ‘habitar’ as bibliotecas, que são autênticas catedrais do conhecimento. É uma homenagem a todos os livros”, refere.

Para compreender melhor a importância do papel na aventura dos livros, a equipa envolvida na produção e realização de Folha em Branco/Ex-líbris visitou todas as 12 bibliotecas incluídas na elaboração da colecção. Porém, um dos momentos mais marcantes foi perceber como funciona o ciclo do papel na origem. “Fomos visitar a fábrica da The Navigator Company, em Setúbal, para compreendermos as várias etapas da produção do papel. Para entendermos o fascínio da folha em branco e partilhar essa experiência com toda a equipa que trabalhou neste projecto”, explica Diogo Machado Ferreira.

A fábrica dos sonhos

A The Navigator Company foi, assim, um dos pontos obrigatórios desta viagem ao mundo do papel. A empresa realizou um estudo (“Horizon 2030 - The Future of Uncoated Woodfree Paper Demand”) com os olhos postos no uso deste material. Foram analisados mais de 500 estudos, papers e livros que “confirmam as vantagens do papel sobre os ecrãs nos processos de aprendizagem, aquisição de conhecimento, desenvolvimento cognitivo e compreensão de textos informativos e complexos”, avança a empresa.

Já o estudo ARFIS – Academic Reading Format International Study (de 2016, 10 000 estudantes em 19 países) indica que a maioria dos alunos prefere estudar em folhas impressas, especialmente se forem mais de sete páginas. Mais: revelam uma clara preferência por papel para tarefas que incluem atenção, revisão e memória. Esta preferência dos estudantes pelo papel enquanto facilitador de concentração e memória é transversal a todas as geografias… O estudo realça, ainda, que 82 por cento dos participantes evidenciaram maior concentração na matéria quando a liam em papel e 72 por cento lembravam-se melhor desta quando a liam naquele suporte.

De origem grega a palavra “biblioteca” significa o local onde se depositam livros. Esta é, contudo, uma definição muito redutora destes espaços de partilha de cultura, sabedoria e história.

“A biblioteca é um espaço bonito e confortável. Pode ser uma casa inteira, concebida de raiz, ou apenas uma sala adaptada. Sabe-se onde estão os livros e as revistas porque o catálogo está em dia. Os bibliotecários são profissionais cultos, mas não impositivos. Apenas sugerem leituras”, descreve José Augusto Cardoso Bernardes, antigo Director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e curador da colecção Ex-Líbris - Tesouros das Bibliotecas de Portugal, que agora é distribuída com o PÚBLICO.

Esta colecção convida o leitor a franquear as portas de uma biblioteca e a redescobrir o prazer de abrir um livro. Propõe ao leitor entrar no universo de histórias comuns a todos nós e são parte do nosso património linguístico, histórico e cultural. Trata-se de uma oportunidade única para descobrir verdadeiros tesouros e, sobretudo, de tomar parte na missão colectiva de transmitir aos vindouros um legado precioso, feito de saber e de beleza.

De que outro modo seria possível ter uma edição fac-similada em capa dura do Alfabeto do Nome das Árvores e Arbustos Conhecidos e dos Lugares e Sua Natureza, datado de 1757? Para descobrir às sextas-feiras, quinzenalmente.

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