Rio à procura do equilíbrio para fazer as listas. “A pessoa tem de ser competente e leal”, disse

Numa curta entrevista à SIC, o reeleito líder do PSD vincou que é tempo de unir o partido para as legislativas e voltou a afirmar o voto nos sociais-democratas como o verdadeiro “voto útil” para “substituir o PS na governação do país”.

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Paulo Pimenta

Rui Rio irá analisar a “competência e lealdade” dos deputados do PSD antes de decidir quem deverá integrar as próximas listas para as eleições legislativas antecipadas de 30 de Janeiro. Depois de vários nomes dos quadros do PSD (e da bancada parlamentar do partido) terem apoiado o candidato derrotado no domingo, Paulo Rangel, Rui Rio admitiu que as próximas listas terão de olhar também para a lealdade. Esta segunda-feira, numa curta entrevista à SIC depois de ter vencido as directas do seu partido com 52,43% dos votos, o líder do PSD disse ainda que ainda está “a reflectir” sobre uma possível coligação com o CDS ou uma readaptação da solução dos Açores, com a reedição da Aliança Democrática (AD).

“Primeiro a competência, depois a lealdade. Se tiver alguém muito competente, mas essa pessoa lhe é desleal então não lhe serve para nada. Por outro lado, se tiver alguém que lhe é muito leal mas é incompetente e só faz asneiras também não lhe serve para nada”, simplificou. A solução? O equilíbrio, respondeu. “A pessoa tem de ser competente e leal.” No entanto, nem tudo é preto e branco. “O facto de ter estado com o meu adversário não quer dizer que seja necessariamente desleal. Vamos fazer uma medição de todo o comportamento durante a legislatura e não só agora em cima da eleição”, esclareceu. Em entrevista à CNN, transmitida também nesta noite, Rio voltou a falar da composição das listas e defendeu que apesar do presidente do partido e direcção terem uma palavra, “o conselho nacional é que vota”. E haverá uma avaliação. “Não podemos ser todos hipócritas. Determinada pessoa esteve sempre contra mim, sempre contra mim e quer continuar na lista? Há aqui uma contradição. Acredita ou não acredita? Discorda ou não discorda? Não concorda, mas quer estar?”, notou. “Respeito quem tem uma visão diferente, já tenho mais dificuldades em respeitar quem anda aqui com jogos a tratar da sua vida”, atirou o presidente do PSD.

No domingo, o director de campanha de Rui Rio, Salvador Malheiro, já tinha notado que “estas eleições internas permitiram clarificar muito" os próximos passos a dar nas listas que serão entregues até 20 de Dezembro. “Há muita gente que agora, se calhar, não vai estar disponível para fazer parte das listas. Pelo menos, desde que tenham um pouco de decoro”, rematou.

À SIC, sobre o futuro de Paulo Rangel, o líder do PSD lembrou que o eurodeputado “tem um lugar relevante no Parlamento Europeu”, incluindo no Partido Popular Europeu (PPE). “Diz que vai continuar, e bem, no desempenho dessa função. Quanto ao futuro, logo se vê.” Mas recusa-se a adiantar se, caso o PSD eleja Governo, haverá um convite ao eurodeputado social-democrata.

Sobre o almoço que Carlos Moedas, presidente da câmara de Lisboa, com Rangel, Rio garantiu que “ninguém se zanga”. Mas não deixou de considerar que “era mais prudente manter-se em silêncio até ao sábado”. Sobre a audiência de Marcelo Rebelo de Sousa a Rangel, Rio garantiu que já pôs um ponto final e que é tempo de reconstrução.

O líder social-democrata falou também de um possível entendimento com o PS, caso o PSD não obtenha uma maioria de direita e reafirmando que mantém o Chega fora de uma solução. Será a bancada socialista a permitir um Governo do PSD? “Nunca aconteceu na vida, o contrário até é mais fácil”, reconheceu. “O PSD ao longo da história tem mais sentido de responsabilidade e de Estado, mas quero acreditar que o PS pode evoluir e perceber que só tem a ganhar se tiver esse sentido de responsabilidade.” E fez um apelo ao voto útil. “Os eleitores têm de perceber onde está a força para ganhar ao PS. O único partido que pode fazer frente ao PS directamente e substituir o PS na governação do país é o PSD”, disse. Por isso, terão de decidir se querem “um voto útil é no PSD, ou um voto num partido mais pequenino e que pode, por essa via [tirando força ao PSD], permitir que seja o PS a governar”.

Coligação com CDS em aberto

Depois de ter dito que estaria “inclinado” para concorrer às legislativas ao lado do CDS, Rio afirmou está a reflectir se o partido se candidatará com algum partido. “Não está completamente decidido. Estou a fazer a reflexão e quero que os outros façam comigo, para perceber se é vantajoso ir com o CDS, numa Aliança Democrática como nos Açores, ou completamente sozinho. Quero ouvir as pessoas. Ambas as decisões têm as vantagens e desvantagens.” Rio não deixou de lamentar que o partido se tenha dividido antes das legislativas, mas vê a sua reeleição como um sinal de força para o PSD. “O partido devia estar todo concentrado nas eleições legislativas. Considerando que ganhei e há uma continuidade, reconheço que está vitória dá um élan muito positivo à minha candidatura a primeiro-ministro e ao PSD nas legislativas”, defendeu. Porém, “se o resultado não tivesse sido este e tivesse sido outro era muito complicado, porque era fazer em 60 dias tudo o que devia ter sido feito em muito tempo”, acrescentou.

Questionado sobre as palavras do primeiro-ministro (e secretário-geral socialista) António Costa sobre a divisão do PSD, Rio lembrou que também os socialistas têm as suas divisões. “Há um PSD dividido porque sai de umas eleições internas, mas há também um PS dividido, como nós sabemos, até em torno de uma possível sucessão do doutor António Costa. Se nós temos essa dificuldade o PS também a tem, verdade seja dita”, asseverou.

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