Inflação na Alemanha e em Espanha ao nível mais alto desde 1992

Ritmo de subida dos preços nos dois países registado em Novembro é o mais alto desde 1992. BCE continua a defender que alta da inflação será temporária.

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Em ambos os países, a subida da inflação dos últimos meses tem como principal justificação a alta de preços dos produtos petrolíferos Reuters/JON NAZCA

Os valores da taxa de inflação na Alemanha e em Espanha mantiveram, durante o mês de Novembro, uma trajectória ascendente, colocando este indicador ao nível mais alto alguma vez registado desde que foi criada a moeda única.

Na maior economia europeia, a taxa de inflação homóloga harmonizada (calculado com as mesmas regras para todos os países da UE) cifrou-se em 6%, uma subida significativa face aos 4,6% de Outubro, revelou esta segunda-feira a autoridade estatística alemã. Nunca, desde que em 1997 se começou a calcular este indicador, a Alemanha tinha registado um valor tão elevado. A taxa de inflação homóloga alemã calculada de acordo com a metodologia própria do país também subiu, neste caso para 5,2%, o valor mais alto desde Junho de 1992.

No caso da Espanha, a taxa de inflação homóloga passou de 5,4% em Outubro para 5,6% em Novembro, o valor mais alto desde Setembro de 1992.

Em ambos os países, tal como acontece na generalidade das economias, a subida da inflação que se verifica nos últimos meses tem como principal justificação a alta de preços dos produtos petrolíferos. Para além disso, os constrangimentos e aumentos de custos nas cadeias de distribuição internacionais, a aceleração da actividade económica e, no caso da Alemanha, o regresso da taxa de IVA ao seu valor normal, também estão a contribuir para este fenómeno.

Esta terça-feira, o Eurostat irá publicar a sua primeira estimativa para o valor da inflação na UE e na zona euro durante o mês de Novembro e a expectativa é neste momento que se verifique mais uma subida. Em média, os analistas inquiridos pela Reuters esperam que a taxa de inflação na zona euro passe dos 4,1% de Outubro para 4,5% em Novembro.

Valores tão elevados constituem um desafio para o Banco Central Europeu (BCE), que tem apostado em retirar de forma lenta os estímulos extraordinários que lançou à economia durante a pandemia. Com a inflação acima de 4%, a pressão para acabar com as compras de dívida e subir taxas de juro mais rapidamente intensifica-se.

No entanto, a entidade liderada por Christine Lagarde tem vindo a resistir aos apelos para a uma alteração de estratégia, defendendo que a subida de inflação agora registada será temporária e que, na ausência de alterações significativas, por exemplo no ritmo de subida dos salários, a tendência passará brevemente a ser de descida.

Esta segunda-feira, numa tentativa imediata de tranquilizar os receios com a inflação que se sentem no seu país, a representante da Alemanha no Conselho Executivo do BCE, Isabel Schnabel disse, em entrevista ao canal de televisão alemão ZDF, acreditar que a taxa de inflação atingiu o seu pico em Novembro e que, a partir de agora, deverá iniciar uma trajectória descendente, à medida que efeitos como os da subida dos preços dos combustíveis ou da alteração do IVA desaparecem. Schnabel reiterou que, num cenário em que parece provável que a inflação volte a descer no decorrer de 2022, seria prematuro começar a subir as taxas de juro imediatamente.

Está agendada para o próximo dia 16 de Dezembro a reunião do conselho de governadores do BCE em que irão ser definidos pormenores da estratégia de retirada dos estímulos monetários na zona euro, sendo também divulgadas as novas projecções da instituição para a evolução do PIB e da taxa de inflação nos próximos anos.

Também esta terça-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) dará a conhecer a sua primeira estimativa para a taxa de inflação em Novembro. Portugal é, neste momento, o terceiro país com a taxa de inflação menos elevada, algo que se explica, entre outros factores, com o peso significativo do sector do turismo na economia e com a subida ligeiramente menos forte em termos relativos dos preços dos combustíveis. Isso não evita contudo que, também em Portugal, a tendência esteja a ser, nos últimos meses, de agravamento das pressões inflacionistas.​

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