Ralf Rangnick tem sempre um plano

O novo treinador interino do Manchester United pode revelar-se uma excelente contratação, mas longe do banco dos “red devils”.

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Ralf Rangnick será treinador do United até ao final da presente época EPA/FILIP SINGER

Há mais um treinador alemão na Premier League inglesa. Depois de Jürgen Klopp e Thomas Tuchel terem encontrado sucesso, respectivamente, no Liverpool e no Chelsea, Ralf Rangnick vai tentar fazer o mesmo no Manchester United, mesmo que só tenha até ao final da época para o conseguir. O técnico de 63 anos foi oficializado nesta segunda-feira como técnico interino dos “red devils até ao final de 2021-22, mantendo-se depois em Old Trafford na qualidade de consultor, pelo menos, por mais dois anos. Ainda terá metas para alcançar nesta época que parece perdida (top 4 na Liga, carreira longa na Champions), mas é no papel de conselheiro na política desportiva do United que poderá mostrar a sua mais-valia.

Klopp e Tuchel olham para Rangnick com reverência e não é apenas por ser um compatriota. O agora interino do United é visto como um inovador, um dos pioneiros do “gegenpressing”, uma filosofia de jogo em que a prioridade é a recuperação de bola imediatamente após a sua perda, e a aposta em transições rápidas – o Liverpool de Klopp é o melhor exemplo deste estilo. Não terá sido ele a inventar esta prática, mas o seu exemplo serviu de inspiração para uma geração de treinadores alemães. E agora terá, finalmente, a oportunidade de se mostrar no futebol inglês, mesmo que com prazo de validade.

Klopp acha que a chegada de Rangnick ao futebol inglês são más notícias para todos os adversários dos “red devils”. “Será uma equipa mais organizada no campo”, garante o técnico do Liverpool.

O substituto de Solskjaer no banco dos “red devils” é um homem com um plano e não se espere que ele seja um antídoto de efeito imediato para a miserável época que o United tem feito. A sua especialidade é “inventar” equipas e dar-lhes dimensão. Foi o que fez, por exemplo, com o Ulm nos primeiros tempos de carreira, conduzindo a equipa da terceira divisão quase até à primeira em 2000 – foi despedido dois meses antes do final da época porque foi tornado público que já tinha um acordo para treinar o Estugarda.

Também teve tempo para devolver o Schalke 04 ao topo do futebol alemão – vice-campeão da Bundesliga e finalista vencido na taça em 2005 –, mas foram os projectos a longo prazo no Hoffenheim e no RB Leipzig que lhe deram projecção internacional. No caso do Hoffenheim, foi da III Divisão à Bundesliga em três épocas – e o clube continua entre os “grandes” da Alemanha. No caso do Leipzig, foi fundamental no seu crescimento acelerado, não apenas no banco (que ocupou duas vezes), mas em toda a política desportiva do clube e de todos os que fazem parte do grupo Red Bull.

E é nesta vertente que Rangnick pode ser uma mais-valia para o United, clube nem sempre criterioso nas suas contratações – por vezes, parece obedecer mais a critérios comerciais do que desportivos. Enquanto esteve ligado ao grupo Red Bull, Rangnick tinha o hábito de só contratar jogadores entre os 17 e os 23 anos. Exemplos maiores desta política de recrutamento são Joshua Kimmich, Dayot Upamecano, Naby Keita, Marcel Sabitzer, Timo Werner, Sadio Mane e Erling Haaland. Todos jovens contratados, que deram rendimento desportivo e foram vendidos com enorme proveito financeiro.

Mas o desafio imediato do alemão é salvar a época do United. Será difícil, mas não impossível, devolver os “red devils” a uma posição entre os quatro primeiros da Premier League, para além de fazer uma boa campanha na Liga dos Campeões, na qual já tem passagem garantida para os “oitavos”. “Todos os meus esforços nos próximos seis meses serão no sentido de estes jogadores cumprirem com todo o seu potencial”, declarou o alemão no comunicado que oficializou a sua contratação, acrescentando que irá trabalhar para que o clube atinja os “seus objectivos a longo prazo” – o que indicia que irá estar envolvido na contratação de jogadores e do seu sucessor.

Muito se especulou em Inglaterra sobre como será a relação de Rangnick com Cristiano Ronaldo, sobretudo porque o avançado português ficou de fora do “onze” do United no recente empate (1-1) com o Chelsea. Michael Carrick assumiu a responsabilidade da decisão e garantiu que o alemão não teve a ver com isso, mas é sabido que Rangnick gosta de apostar em jogadores jovens. Quando estava no Leipzig, perguntaram-lhe se gostava de ter Ronaldo ou Messi, e ele respondeu que não queria ter nenhum – “são demasiado velhos”. Mas de certeza que Rangnick também já tem um plano para acomodar um dos poucos jogadores da equipa que decidem jogos.

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