João Doria escolhido como candidato presidencial do PSDB

O governador de São Paulo ambiciona atrair o apoio dos defensores da propalada “terceira via”, que rejeita tanto Lula como Bolsonaro na presidência.

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João Doria festeja a vitória nas eleições primárias do PSDB ADRIANO MACHADO / Reuters

O governador de São Paulo, João Doria, vai ser o candidato às eleições presidenciais brasileiras do próximo ano pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). A promoção da vacinação contra a covid-19 é o seu grande trunfo, mas terá de vencer o enorme descrédito em que o seu partido caiu nos últimos anos para ter alguma hipótese.

Doria foi o vencedor das eleições primárias organizadas pelo partido, derrotando o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o ex-autarca de Manaus, Arthur Virgílio. O processo de escolha do candidato presidencial foi concluído este sábado e ficou marcado por problemas técnicos relacionados com o sistema de voto electrónico, que vieram aprofundar as divisões entre os “tucanos”.

Esse será um dos primeiros desafios de Doria na sua tarefa difícil de se intrometer na corrida para o Palácio do Planalto. O PSDB é hoje um partido muito dividido e mergulhado numa crise que dura desde as eleições de 2018, em que foi severamente punido. O seu candidato presidencial, Geraldo Alckmin, obteve menos de 5% dos votos na primeira volta e a sua bancada na Câmara dos Deputados passou de 54 para 29 parlamentares.

As sondagens para as eleições do próximo ano parecem dar como quase certa uma disputa entre o actual Presidente, Jair Bolsonaro, e o antigo chefe de Estado, Lula da Silva, o mais que provável candidato do Partido dos Trabalhadores. Vários sectores políticos e económicos tentam há meses coordenar esforços para a viabilização de uma “terceira via” que possa impedir o regresso daquilo que entendem ser uma polarização entre dois extremos.

A ambição de Doria é corporizar essa possibilidade. Para isso tem a seu favor a notoriedade de ser governador do estado mais rico e populoso do Brasil e também o seu trabalho em prol do desenvolvimento e distribuição da vacina contra a covid-19, em contraponto com a desvalorização feita pelo Governo federal. “Nós fomos buscar a vacina”, declarou Doria no seu discurso de vitória, sinalizando que este será um dos argumentos que irá nortear a sua campanha.

O candidato também apontou baterias a Lula e ao PT, ensaiando desde já a outra frente em que pretende combater. “Os Governos Lula e Dilma [Rousseff] representam a captura do Estado no maior esquema de corrupção do qual se tem notícia”, afirmou.

As sondagens atribuíam-lhe até agora valores em torno dos 5% de intenções de voto, atrás do ex-ministro Sergio Moro, que também ambiciona chegar à presidência com o selo da “terceira via”.

Para além de ter ainda de conseguir unir o partido – onde pesos-pesados como o ex-candidato e senador Aécio Neves estiveram ao lado de Leite –, Doria, que antes de chegar a governador era prefeito de São Paulo, terá de lidar com o espectro de ter apoiado Bolsonaro durante a campanha de 2018, criando até o slogan “BolsoDoria”.

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