A Base Aérea de Beja atrai cada vez mais aves, que já entram em colisão com os aviões

À medida que as culturas intensivas se aproximam da zona militar, as aves procuram a segurança e o alimento nos densos povoamentos de montado que crescem no interior da base.

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Quando os alemães obtiveram autorização para instalar uma base área nos arredores de Beja, no início dos anos 60 do século passado, a área escolhida era uma imensa planície de terra fértil, onde cresciam culturas cerealíferas de sequeiro. Apenas algumas árvores isoladas se avistavam na área com quase 800 hectares, onde foi construída o que era, na altura, a maior base aérea da Europa e uma das maiores do mundo. Contudo, os alemães não se limitaram a instalar as infra-estruturas da base. Preencheram o perímetro militar com plantações de espécies autóctones, como o sobreiro e a azinheira. E agora, fugindo do olival intensivo, centenas de aves encontraram aqui um refúgio, embora nem sempre seguro. A coabitação entre aves e aviões oferece alguns riscos.

Em 1993, cessou o acordo luso-alemão relativo à utilização da Base Aérea em Beja (BA11), que proporcionava facilidades de treino operacional à Força Aérea Alemã, e a base passou a operar só com unidades portuguesas. A Força Aérea Portuguesa (FAP) prosseguiu com a plantação, no interior da unidade militar, de novos povoamentos de montado.

O coronel Paulo Costa, que recebeu o PÚBLICO na véspera de terminar a sua função na BA11, mostrou o resultado da arborização de dezenas de hectares com árvores autóctones. Do alto da torre de controlo tem uma imagem mais precisa da área de montado que progressivamente foi cobrindo extensas áreas de terreno, rodeando as instalações da unidade militar e servindo de enquadramento às aeronaves quando estas estão estacionadas na placa. São sobreiros, azinheiras, mas também eucaliptos, freixos e pinheiros-mansos a contornar a enorme pista, os hangares e demais instalações militares, sem que se observem árvores secas ou decrépitas. “No entanto, estamos a falhar na poda das árvores”, reconhece o militar.

A major Sandra Ribeiro, responsável pelas áreas florestadas na base de Beja, dá conta da sua dimensão: a floresta cobre uma área de 456 hectares do perímetro da base. Deste total, 145 hectares são de montado de sobro e quase 190 hectares são povoamentos de azinheiras. Os eucaliptos cobrem uma área de 12 hectares, os freixos cinco hectares e o pinheiro-manso quase uma centena de hectares.

Mas, à medida que aumentava e crescia esta riqueza florestal, surgiu o problema da sua manutenção. “Ter isto [o montado] bem tratado implica um investimento significativo e é muito exigente em maquinaria, que falta, assim como faltam recursos humanos.” E não falta o que fazer, tanto na área militar como na zona residencial militar, com 330 habitações, parques e zonas verdes, localizada na parte Sudoeste da cidade de Beja, que ainda é conhecida por “Bairro Alemão”.

A FAP apresentou uma candidatura a fundos comunitários para desbaste e desrama de 315 hectares de floresta, que aguarda despacho favorável. A major Sandra Ribeiro disse que a desbóia (extracção da primeira cortiça) está programada para 2024. Serão os sobreiros plantados na sequência de uma candidatura ao Programa Ruris, feita em 2007. Foram plantados no interior da base de Beja cerca de 400 sobreiros, freixos e pinheiros-mansos.

“Temos um grande trabalho pela frente”, sublinha a militar, destacando o objectivo último: ter uma floresta auto-sustentável, que se pague a si própria e ao mesmo tempo preserve espécies autóctones. E já se encontra em fase de aprovação, no Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, o Plano de Gestão Florestal da Base Aérea n.º 11.

Também o coberto arbustivo das áreas florestadas merece a atenção dos militares. Um rebanho com cerca de meia centena de ovelhas é pastoreado em permanência naqueles espaços, evitando o crescimento desordenado do mato. “Não há memória de um incêndio na base de Beja”, assinala o coronel Paulo Costa.

Este montado que foi sendo instalado desde 1964 até aos dias de hoje está, agora, transformado numa reserva para as aves, que ali “têm abrigo e sossego”. O coronel Paulo Costa aponta para a parte Norte da pista, onde se podem ver manchas de sobreiros e azinheiras. O avistamento de aves, em grande número, impôs a presença de um falcoeiro. Mesmo assim, “as colisões com aeronaves continuam a aumentar”, refere o militar.

As aves, isoladamente ou em bando, podem colidir com a fuselagem das aeronaves ou serem sugadas pelos motores. Até agora, nada de grave aconteceu, mas o local de aterragem na zona Norte da pista levanta sérias reservas. Este problema não se colocava antes da instalação das novas culturas. 

Para além das aeronaves militares, passaram a utilizar a pista da BA11 aviões civis comerciais (estacionamento) e voos charters, embora o volume de tráfego seja pequeno. A pista já recebeu os maiores aviões do mundo, como o Antonov AN-225, aviões-radar AWAC, o bombardeiro B-1, Airbus 380, etc..

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