Quando quarta-feira foram anunciadas as mudanças no regulamento do Prémio José Saramago, que agora passará a distinguir apenas obras de ficção inéditas e terá um valor monetário de 40 mil euros (além da publicação do inédito vencedor), não percebi porque o faziam. 

Num primeiro momento até pensei que estavam a optar por um sistema misto, em que além dos inéditos poderiam continuar a concorrer ao Prémio José Saramago obras cuja primeira edição tivesse sido publicada em qualquer país da lusofonia. O que até facilitaria a vida ao júri, pois esses livros já tinham passado pelo crivo de outros editores.

Quem já fez parte de júris de prémios que contemplam inéditos sabe bem que muitos dos manuscritos enviados não passarão a uma segunda leitura. Por vezes, esses prémios não são atribuídos por falta de qualidade dos originais apresentados como aconteceu em 2010, 2016 e 2019 com o Prémio Leya.

A sensação que fica é que o Prémio José Saramago perdeu um pouco da sua identidade. Ficou mais parecido com o Leya, que também é um prémio de inéditos, embora não imponha limite de idade aos concorrentes e tenha actualmente um valor monetário superior em dez mil euros (50 mil euros no total, mais a publicação do inédito).

Quem leu as obras vencedoras dos Prémios José Saramago sabe a qualidade que elas têm. Quem ainda não as leu, pode visionar os episódios da série documental Herdeiros de Saramago, com autoria de Carlos Vaz Marques e realização de Graça Castanheira (na RTP Play).

O novo regulamento do Prémio José Saramago será publicado mais tarde, mas só este anúncio já provocou discussão. Maria do Rosário Pedreira, que foi e ainda é editora de escritores a quem já foi atribuído o Prémio José Saramago, lamentou esta decisão no seu blogue Horas Extraordinárias.

A propósito deste tema vale a pena também voltar a ler o texto que a jornalista Isabel Lucas escreveu no Ípsilon intitulado: Para que serve um prémio literário? E regressar também a um texto mais antigo, de 2014, onde o crítico literário José Riço Direitinho nos falava Do valor literário – ou não – do Prémio Leya e chegava à conclusão que com o passar dos anos este se tornou "um prémio doméstico, e obviamente comercial, que tem distinguido livros de qualidade mediana", embora referisse também que "há excepções".

 

A jornalista Bárbara Reis contou-nos esta semana, no P2, a história de um dos acontecimentos editoriais do ano : a publicação em ebook dos Diários de Salazar (1933-1968) - O dia a dia, a hora a hora, da vida pública e privada de António Oliveira Salazar, pela Porto Editora. Depois de nove anos de trabalho da arquivista Madalena Garcia, é agora possível conhecer o quotidiano público e privado do ditador.

O livro electrónico está dividido por anos e meses, tem um índice onomástico e permite fazer pesquisa por uma ou mais palavras. Neste trabalho multimédia é possível consultar 25 destas datas e perceber quais os nomes com mais ocorrências nos diários de Salazar.

 

Mário de Carvalho foi homenageado esta semana na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e condecorado pelo Presidente da República com as insígnias da Grã-Cruz da Ordem do Infante D.Henrique. Numa conversa com a jornalista Ana Sá Lopes conta que quando começou a escrever na juventude mostrou os textos a uns amigos que lhe disseram: “Os surrealistas já fizeram isso há muito tempo, deixa-te disso”. 

 

Esta semana chegou também às livrarias a biografia que Blake Bailey fez sobre Philip Roth. No Leituras, o site do PÚBLICO dedicado aos livros, podem ler o prólogo desta obra.

E também está lá o texto que o editor, escritor e crítico literário John Freeman escreveu para o Ípsilon em Abril sobre a obra: "É um livro capaz de nos fazer adorar Roth e odiá-lo na mesma página."

O escritor João Paulo Borges Coelho, que já venceu o Prémio Leya em 2009 com o romance O Olho de Hertzogconversou com Isabel Lucas sobre o seu novo romance Museu da Revolução (Editorial Caminho). Este é "um livro onde o escritor resgata a memória recente de Moçambique a partir de gente comum, cujo quotidiano testemunha um território marcado pela guerra, pela violência, pelo sofrimento e que vamos conhecendo numa viagem que é tanto a travessia de um país quanto o vislumbre da transformação social, política, cultural que ocorrida desde a década de 60", escreve a jornalista na crítica que fez ao livro. 

Até para a semana.