Morreu Stephen Sondheim, gigante do musical americano

O compositor e escritor de canções tinha 91 anos e morreu em casa esta sexta-feira.

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Stephen Sondheim no palco do Fairchild Theater, East Lansing, Michigan, EUA, em 1997 Douglas Elbinger/Getty Images

Sinónimo de musicais, Stephen Sondheim foi compositor e letrista e um dos maiores nomes de sempre da Broadway, um gigante dos musicais. Morreu esta sexta-feira, aos 91 anos. A notícia é avançada pelo New York Times, a quem o advogado de Sondheim confirmou o óbito, dizendo que foi súbito. 

São de Sondheim as letras e música, algo que não é muito comum no meio, de musicais como Sunday in the Park with GeorgeCompany, Sweeney Todd, Into the Woods, A Little Night MusicFollies ou Merrily we Roll Along, Assassins, entre muitos outros, além de ter escrito as letras de West Side Story e Gypsy. O derradeiro espectáculo acabou por ser Road Show, de 2008, mas Sondheim manteve-se sempre activo com novas encenações e composições e outros trabalhos.

Altamente influente e popular, foi alguém que sempre trouxe ambição, profundidade, complexidade, temas sombrios e adultos aos seus espectáculos que queriam fugir ao escapismo normal da Broadway. Considerava-se mais compositor do que letrista, mas era exímio nas rimas e em jogos de palavras, sem nunca ser vazio e com um enorme sentido de humor. Sweeney Todd foca-se, por exemplo, no barbeiro e assassino em série da ficção londrina do século XIX, Company gira à volta do 35º aniversário de um homem solteiro, os seus problemas e o dos seus amigos casados, enquanto Sunday in the Park with George olha para o processo criativo e os sacrifícios da vida pessoal que um artista muito focado faz, tudo a partir do quadro Tarde de Domingo na Ilha de Grand Jatte.

O compositor esteve sempre ligado à concepção dos espectáculos, trabalhando com nomes como o encenador Hal Prince ou o libretista e encenador James Lapine, que em 2013 realizou um documentário da HBO sobre ele, Six by Sondheim. Ao longo de uma carreira que começou no início dos anos 1950, arrecadou vários prémios, incluindo nove Tonys, um Óscar e oito Grammys, além de um Pulitzer e outras condecorações. Trabalhou com vozes como Bernadette Peters, Elaine Stritch, Patti LuPone, Mandy Patinkin, Angela Lansbury, Raúl Esparza, entre muitas outras lendas da Broadway.

Nascido em Manhattan em 1930, filho do dono de uma empresa têxtil e de uma estilista com quem o compositor sempre teve uma relação tempestuosa, Sondheim foi aprendiz, desde novo, do lendário letrista e libretista Oscar Hammerstein II, que fazia parceria com o compositor Richard Rodgers. O próprio Sondheim acabaria por se tornar mentor de outros compositores como Jonathan Larson, o criador de Rent, ou Lin-Manuel Miranda, que realizou tick, tick...BOOM!biopic de Larson (com um cameo vocal de Stephen Sondheim) lançado pela Netflix no dia 12 deste mês.

Além dos palcos, também trabalhou no cinema. O seu único Óscar foi-lhe dado por Sooner or Later (I'll Always Get My Man), de Dick Tracy, de Warren Beatty, em 1991, para quem já tinha escrito a música de Reds, de 1981. Compôs para Stavisky, do francês Alain Resnais, em 1974. Nem só de música foi feita a sua convivência com o audiovisual. Sondheim foi argumentista, tendo escrito, com Anthony Perkins, The Last of Sheila, um filme de Herbert Ross centrado num homicídio entre amigos e baseado em jogos que ambos, Sondheim e Perkins, o actor de Psico, faziam com os amigos em Nova Iorque. Antes disso, e de sequer ter uma carreira profissional no teatro, tinha escrito episódios da série de televisão Topper.

Alguns dos seus musicais, como Sweeney ToddInto the Woods ou A Little Night Music, também foram adaptados ao cinema, bem como A Funny Thing Happened on the Way to the Forum, uma comédia passada na Roma antiga de 1962. Em 1970, o realizador de documentários D.A. Pennebaker filmou a cansativa gravação do álbum da banda sonora com o elenco original de CompanyNo final dos anos 1960, criou também palavras cruzadas para a revista New York.

Em 2010, escreveu um livro de memórias, Finishing the Hat, um título que faz referência a uma canção de Sunday in the Park With George, focado na arte de escrever canções e de encaixar palavras e histórias em melodias. No ano seguinte editou uma sequela, Look, I Made a Hat. Era casado, desde 2017, com Jeffrey Romley, seu viúvo.

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