Retrato da diabetes em Portugal: um debate necessário

Dois estudos sobre o impacto que a pandemia teve na diabetes em Portugal revelam a necessidade de medidas urgentes. Um plano de reconstrução para a doença estará em debate no dia 26 de Novembro, no auditório do Público.

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Portugal é o segundo país da União Europeia com maior prevalência de diabetes (13,6%), acreditando-se que existam cerca de 2,7 milhões de portugueses com diabetes ou em risco de a desenvolver. E se estes números nos dizem que a situação já é complexa e desafiante em Portugal, mais ainda nos fazem reflectir tendo em conta a situação pandémica que tanto interferiu na prestação de cuidados de saúde em geral à população. Afinal, que impacto sentiram os doentes com diabetes na gestão da sua doença ao longo do último ano? Será que se observou um aumento do número de diagnósticos? Terá a diabetes ficado bem controlada ou, pelo contrário, ter-se-á tornado uma doença mais grave e letal? Foi a procura de respostas para estas e outras questões que norteou a realização de dois estudos, cujas conclusões serão partilhadas publicamente no próximo dia 26 de Novembro, durante o debate subordinado ao tema “Um PRR para a diabetes: a oportunidade é agora”, que se realizará no auditório do Público, às 10h00, com transmissão directa no site e nas páginas de Facebook e YouTube do Público.

Entre os resultados que serão partilhados, destaca-se o facto de, em 2020, se ter registado uma redução de 23% no número de novos casos de diabetes e de 62% no número de diagnósticos de obesidade. Segundo Joana Sousa, partner da MOAI Consulting - a empresa que conduziu o estudo “Diagnóstico sobre o acompanhamento da diabetes nos cuidados de saúde primários” -, com estes dados “não podemos assumir que houve uma diminuição real da incidência destas patologias, até porque, como sabemos têm tido uma incidência crescente nos últimos dois anos, mas o que isto nos diz tem muito a ver com o acesso aos cuidados de saúde primários”.

Também no que diz respeito à diabetes tratada em contexto hospitalar, constatou-se uma redução de 15% do número de doentes, mas, como sublinhou Manuel Delgado, ex-secretário de Estado da Saúde e consultor da IASIST/IQVIA - a empresa responsável pelo estudo “Impacto da Covid-19 na resposta hospitalar à diabetes em Portugal” -, o que aconteceu foi que este decréscimo “veio associado a um aumento da complexidade dos doentes, a um tempo de internamento superior, a uma mortalidade mais elevada e também a um número superior de doentes com sequelas, designadamente nas amputações por doença”.

Um plano de reconstrução precisa-se

Para Joana Sousa, a necessidade de um plano de reconstrução específico para a diabetes é inquestionável, pois a estes novos dados juntam-se os que já se conheciam: “Todos os dias, oito pessoas são amputadas por causa da diabetes, três perdem a visão e a cada duas horas uma pessoa morre” como consequência da diabetes. Além disso, “o sedentarismo e a obesidade são factores de risco e Portugal é, neste momento, o segundo país mais sedentário da OCDE e sabemos que dois em cada três portugueses têm excesso de peso ou obesidade”, explica a consultora.

Outro grande problema que Portugal enfrenta no que diz respeito a esta patologia prende-se com o número de pessoas que estão doentes sem saber. Como salienta Manuel Delgado, “esta doença é silenciosa, há uma percentagem de portadores da doença que nós não conhecemos”, o que acarreta consequências. Com efeito, entre os doentes com diabetes em Portugal, apenas 55% sabem que têm a doença, pelo que o antigo secretário de Estado da Saúde considera “muito importante” o esforço que as entidades oficiais possam desenvolver para que os restantes 45% sejam diagnosticados.

Promover o debate, apoiar respostas

“Um PRR para a diabetes: a oportunidade é agora” é uma iniciativa promovida pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), com o apoio da Novo Nordisk, da MOAI Consulting e da IASIST/IQVIA, visando proporcionar às instituições de saúde uma plataforma de discussão e apoio à implementação de projectos que respondam aos desafios da gestão da diabetes em Portugal. Para tal, o projecto conta com um steering committee e uma task force que, em conjunto, se propõem criar uma agenda para a diabetes em Portugal.

A sessão de abertura do evento contará com a presença de Alexandre Lourenço, presidente da APAH, seguindo-se a projecção de um vídeo com as principais conclusões dos dois estudos desenvolvidos pela MOAI Consulting e pela IASIST/IQVIA, respectivamente. No debate, moderado pela jornalista Dulce Salzedas, estarão presentes João Raposo, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, director do Observatório Nacional da Diabetes e elemento do steering committee, Sónia do Vale, directora do Programa Nacional para a Diabetes da Direcção-Geral da Saúde, João Nabais, vice-presidente da International Diabetes Federation, Tiago Taveira-Gomes, especialista em Medicina Geral e Familiar e elemento da task force, e Helena Canhão, professora catedrática de Medicina na Nova Medical School. O encerramento estará a cargo de António Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde.

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