Será que os oxímetros são racistas? Governo britânico investiga “preconceito racial” em dispositivos médicos

Ministro da Saúde britânico fala em “problema sistémico” e admite que a pandemia matou mais negros e asiáticos do que brancos no Reino Unido.

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Um paciente de covid a dar entrada no Royal Londos Hospital em Janeiro deste ano ANDY RAIN/EPA/

O Governo britânico está a investigar se o “preconceito racial” introduzido em alguns dispositivos médicos fez com que negros e asiáticos adoecessem e morressem de forma desproporcional por causa da covid-19. O ministro da Saúde, Sajid Javid, disse no domingo que a pandemia realçou as disparidades no acesso aos cuidados de saúde entre raça e género.

O ministro, citado pela Associated Press, afirmou que um terço dos internamentos em cuidados intensivos na Grã-Bretanha no auge da pandemia era de pessoas de origem negra e de minorias étnicas, mais do dobro do que a sua percentagem na população do Reino Unido.

Segundo o departamento de estatísticas do Reino Unido, no primeiro ano da pandemia, até Março de 2021, pessoas negras e originárias da Ásia do Sul tiveram taxas de mortalidade mais altas do que os brancos, mesmo depois de levados em consideração factores como ocupação e condições de saúde.

Sajid Javid referiu que a investigação mostrou que os oxímetros de pulso, que medem os níveis de oxigénio no sangue através da pele, funcionam pior em peles mais escuras, contribuindo para a morte desnecessária de muitas pessoas durante a pandemia.

“Há artigos científicos de investigação sobre isto e ninguém fez nada em relação ao assunto”, disse Javid à Sky News. “Agora, não estou a dizer que foi feito deliberadamente por alguém, penso que é um potencial problema sistémico, com dispositivos médicos, e pode ser ainda mais profundo do que isso, estendendo-se aos manuais de Medicina, por exemplo”, acrescentou o ministro. 

Ao Sunday Times, referiu que “a possibilidade de um preconceito, mesmo inadvertido, levar a um pior resultado de saúde é totalmente inaceitável” e disse esperar trabalhar com seu homólogo dos Estados Unidos, Xavier Becerra, e responsáveis de outros países, para eliminar o preconceito no sistema de saúde. Acrescentou que uma investigação no Reino Unido, que também examinará o preconceito de género, apresentará os seus resultados até o final de Janeiro.

A Grã-Bretanha registou mais de 143 mil mortes por coronavírus, o segundo maior número na Europa, depois da Rússia. O continente é actualmente a única parte do mundo onde os casos de covid-19 estão a aumentar, e muitos países estão a reintroduzir restrições para contrariar este aumento. No Reino Unido, no entanto, os casos estão praticamente estáveis e as hospitalizações e os óbitos estão a diminuir lentamente.

O primeiro-ministro Boris Johnson disse esta semana que não via necessidade de mudar para o “Plano B”, no âmbito do qual as pessoas seriam obrigadas a usar máscaras em ambientes fechados e aconselhadas a trabalhar em casa.

A Grã-Bretanha teve taxas de infecção mais altas do que os países vizinhos durante vários meses, e alguns cientistas dizem que isso coloca o país numa melhor posição agora.

Linda Bauld, professora de Saúde Pública da Universidade de Edimburgo, disse que o Reino Unido tem lidado com a variante Delta do vírus, altamente transmissível, há mais tempo do que os seus vizinhos europeus e que, talvez por isso, “tenha uma imunidade um pouco mais alta”.

A Grã-Bretanha também já iniciou a vacinação de reforço para todas as pessoas com 40 anos ou mais. E John Bell, professor de Medicina na Universidade de Oxford, disse não acreditar que o Reino Unido volte a ter de decretar um confinamento este Natal, como aconteceu em 2020.

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