Ex-Presidente Saakashvili está em estado crítico, diz provedoria da Geórgia

Mikheil Saakashvili, em greve de fome há mais de mês e meio, precisa de ser internado numa unidade de cuidados intensivos com urgência. Autoridades continuam a recusar a transferência.

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Provedoria de direitos humanos diz que Mikheil Saakashvili está em risco de falência cardíaca, hemorragia gastrointestinal ou coma. Valentyn Ogirenko/Reuters

O antigo Presidente da Geórgia, Mikheil Saakashvili, tem de ser transferido com urgência da clínica da prisão para uma unidade de cuidados intensivos, disse a provedoria dos direitos humanos do país.

“A condição do paciente é crítica”, dizia a declaração, citada pela agência Reuters. “Por isso, é recomendada a imediata continuação do seu tratamento num hospital funcional e com experiência (…) em particular, numa unidade de cuidados intensivos”, dizia a declaração tornada pública na quarta-feira. Esta quinta-feira é o 48º dia de greve de fome.

Saakashvili está em greve de fome há mais de um mês e meio, e pode, por isso, ter em breve várias complicações e entrar em falência cardíaca, ter uma hemorragia gastrointestinal ou ficar em coma, segundo a declaração.

Peritos visitaram a clínica em que está Saakashvili e concluíram que esta não tem as condições necessárias para o doente de 53 anos.

Além disso, o antigo presidente foi ameaçado por outros detidos.

Saakashvili foi preso a 1 de Outubro depois de voltar à Geórgia para apoiar a oposição na véspera das eleições locais. Enfrenta seis anos de prisão depois de ter sido condenado, à revelia, em 2018 por abuso de poder durante a sua presidência de 2004 e 2013, uma acusação de diz ter motivos políticos.

Chegou ao poder na sequência da Revolução Rosa, a primeira de várias revoluções conhecidas pelas suas cores na região. Mas foi durante a sua presidência que o país viveu uma breve guerra com a Rússia, em 2008, que teve um pesado custo humano e acabou numa derrota para a Geórgia. Depois de deixar a presidência, Saakashvili  viveu nos EUA e na Ucrânia, tendo nacionalidade ucraniana e tendo também tido carreira política no país (onde também chegou a passar pela prisão e chegar a ficar, durante um período, apátrida, quando a Ucrânia lhe retirou a cidadania - depois devolveu-lha).

Saakashvili disse na semana passada que terminaria a greve de fome se fosse transferido para uma clínica com tecnologia avançada “para reabilitação pós-greve de fome”.

Os EUA e o Tribunal Europeu de Direitos Humanos pediram ao Governo da Geórgia que trate Saakashvili “de modo justo e com dignidade”. O tribunal invocava mesmo um risco “de dano irreparável” ao detido. 

Pouco antes, o ministro da Justiça da Geórgia, Rati Bregadze,​ dizia que “não há nem uma ocasião em que Saakashvili não tenha recebido um acto médico que tenha requerido”.

O primeiro-ministro Irakli Garibashvili causou, pelo seu lado, polémica ao dizer que Saakashvili “tem o direito de se suicidar”.

O advogado de Saakashvili, Beka Basilaia, dizia recentemente que as autoridades permitiram que Saakashvili fosse maltratado pelos outros detidos, que “querem vingança” pela campanha que, na presidência, Saakashvili levou a cabo contra o crime organizado e a corrupção. De acordo com as descrições da provedoria, ouviam-se gritos de insultos dos outros prisioneiros onde ele estava. “Querem pressioná-lo com terror psicológico e deixar a sua segurança física em perigo às mãos de criminosos”, acuava o advogado. 

A prisão de Saakashvili, a figura mais relevante e mais polarizadora da história pós-soviética da Geórgia, levou aos maiores protestos contra o Governo da última década, exacerbando uma crise provocada por eleições legislativas no ano passado que a oposição denunciou como fraudulentas.

Vários deputados da oposição começaram também uma greve de fome.

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