Desigualdade preocupa cada vez mais, mas soluções não são unânimes

Nos países da OCDE as pessoas dizem-se cada vez mais preocupadas com as desigualdades salariais e com a reduzida mobilidade social. Mas quando chega a hora de dizerem que medidas devem ser tomadas, há uma grande divisão.

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Quatro em cada cinco pessoas no espaço da OCDE consideram que as disparidades de rendimentos são demasiado grandes no seu país Daniel Rocha

As pessoas estão cada vez mais preocupadas com as desigualdades, mas quando chega o momento de avaliar a sua magnitude e de definir medidas para as resolver há uma grande divisão. Esta é uma das conclusões do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), divulgado nesta quinta-feira, que avalia como são percebidas as desigualdades económicas e de oportunidades.

De acordo com o relatório, quatro em cada cinco pessoas no espaço da OCDE consideram que as disparidades de rendimentos são demasiado grandes no seu país, uma preocupação que aumentou nas últimas três décadas e que inclui também a reduzida mobilidade social.

Esta percepção não está desligada da realidade, confirma a OCDE, sustentando a afirmação com dados do relatório hoje divulgado.

No final dos anos 1980 e início dos anos 90, os dados mostravam que as pessoas acreditavam que os trabalhadores de topo ganhavam cinco vezes mais do que os trabalhadores de baixo nível, enquanto hoje esse rácio aumentou para oito.

Por outro lado, mais de seis em cada dez cidadãos da OCDE dizem que o governo do seu país deveria fazer mais para reduzir as diferenças de rendimentos entre ricos e pobres através de impostos e da redistribuição de riqueza.

Contudo, refere o relatório, as crenças que as pessoas têm sobre a eficácia das políticas e sobe o que está por detrás das desigualdades influenciam as medidas consideradas essenciais.

Assim, se acreditarem que os apoios são mal direccionados, as pessoas defendem menos a redistribuição de riqueza. Se acreditarem que a corrupção é generalizada entre os funcionários públicos e que existe uso indevido dos dinheiros públicos, as pessoas são menos a favor de impostos progressivos.

A defesa pela tributação mais progressiva é também menor quando as pessoas acreditam que as disparidades se justificam pelas diferenças de esforço pessoal, em vez de as atribuírem a circunstâncias que não podem ser controladas.

Por exemplo, em 2018, na Polónia, 25% das pessoas acreditavam que a pobreza se devia à falta de esforço e não tanto à injustiça ou falta de sorte e 54% exigiam uma tributação mais progressiva, enquanto na Alemanha esse rácio era de 4% e 77%, respectivamente.

Apesar de a maioria estar preocupada com a desigualdade, há fortes diferenças sobre a sua magnitude e como resolver o problema. Assim, um quarto das pessoas pensa que mais de 70% do rendimento nacional vai para os 10% mais ricos e outro quarto pensa que menos de 30% vai para as famílias mais ricas.

Além disso, a grande heterogeneidade das opiniões sobre as desigualdades tem crescido nas últimas três décadas, mesmo entre pessoas com características socioeconómicas semelhantes.

Se, no Chile, mas também em França e na Itália, a preocupação com as desigualdades de rendimentos é das maiores da OCDE e na Alemanha está a crescer, no México ela é baixa comparada com a média, assim como em países como o Japão ou a Finlândia.

No relatório, a OCDE alerta que, para que a recuperação da crise causada pela pandemia da covid-19 seja forte, sustentável e também justa, será fundamental combater as desigualdades e promover a igualdade de oportunidades.

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