Numa viagem da fronteira ao oceano, Graeme Pulleyn regressa a Dom Quixote

Nicho Associação Cultural voltou ao clássico de Cervantes para atravessar o país. Primeiro filmou o percurso, agora leva-o ao palco, em Viseu.

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Criação artística AoMAR, um projecto concebido pela Nicho Associação Cultural, de Viseu, com direcção de Graeme Pulleyn e encenação de Patrick Murys luis belo
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“Criámos um Dom Quixote e um Sancho Pança do século XXI, que fazem uma viagem inspirada na obra do Cervantes”, diz Graeme Pulleyn luis belo

Em Vale da Mula, no concelho de Almeida, há um curso de água que marca a fronteira com Espanha. É este o ponto de partida para a viagem que é a criação artística AoMAR, um projecto concebido pela Nicho Associação Cultural, de Viseu, com direcção de Graeme Pulleyn e encenação de Patrick Murys. A performance é apresentada esta sexta-feira, na Incubadora do Centro Histórico de Viseu, e neste sábado, na Junta de Freguesia de Silgueiros. 

“Criámos um Dom Quixote e um Sancho Pança do século XXI, que fazem uma viagem inspirada na obra do Cervantes”, introduz Graeme Pulleyn, que é o director artístico da Nicho e divide o palco de AoMAR com o actor Ricardo Augusto. O destino desta viagem é a Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, mesmo em frente ao Oceano Atlântico, num trajecto que corta o país a meio.

Entre a raia e o mar, o projecto parou em residência com as comunidades em três pontos, sempre nas periferias, fugindo aos grandes centros: em Videmonte, em ligação com o Teatro Municipal da Guarda, na Gafanha da Nazaré, com a parceria do projecto 23 Milhas, da autarquia de Ílhavo, e em Silgueiros, uma aldeia do concelho de Viseu, já perto de casa da Nicho.

“Queríamos trabalhar sobre a questão da interioridade e do litoral, este eixo que atravessa Portugal, trabalhar nestes sítios mais periféricos”, explica Pulleyn“Fizemos mesmo esta viagem com as duas personagens”, diz, referindo que esse percurso e a interacção com as comunidades onde pararam foi filmado para criar um “documentário fictício”, com realização de Leandro Silva. Na performance, as imagens partilham o palco com os actores. Nesta viagem e nesta versão, Rocinante tem pulmões de metal: “É uma moto dos anos 1950 com sidecar”. 

Além das localidades das residências, as filmagens passaram também por Almeida, Trancoso e Águeda. Depois de Viseu, a performance AoMAR será apresentada em todos estes municípios, antes de partir para outros pontos do país.

Levar as filmagens aos seis municípios foi “também uma forma de celebrar essa paisagem, essa mudança de imagem, a metamorfose que vai acontecendo desde o ribeiro que divide Portugal de Espanha, até ao infinito do Oceano, em Ílhavo”, explica o director artístico. 

AoMAR já subiu ao palco do Teatro Miguel Franco, em Leiria, e já esteve em Campo Benfeito, a aldeia do Teatro Regional da Serra de Montemuro, companhia à qual Pulleyn tem ligações, mas apresenta-se agora pela primeira vez num dos pontos por onde passou o processo criativo. No meio do projecto, foi também trabalhada a performance O Pão e o Vinho, com o Rancho Folclório de Silgueiros. Essa performance integra a apresentação de AoMAR.  

projecto nasceu ainda em 2020. Foi imaginado em plena pandemia, portanto, pensado para o ar livre e filmado entre Junho e Julho deste ano. “Havia muita disponibilidade por parte das comunidades, que estavam a sair de um ano e meio sem actividades” do género, comenta Graeme Pulleyn. AoMAR tem o apoio da Direcção-Geral das Artes e do programa Viseu Cultura, um instrumento criado pela autarquia.

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