Oposição argentina ganha legislativas nos principais distritos

O peronismo perdeu a maioria absoluta que detém no Senado há mais de três décadas. Ainda assim, o Governo de Alberto Fernández parece ter conseguido evitar a catástrofe eleitoral que muitos antecipavam.

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A coligação Juntos pela Mudança celebra os resultados das legislativas EPA/Enrique Garcia Medina

A coligação Juntos pela Mudança, principal força da oposição na Argentina, celebrou a vitória nas legislativas parciais de domingo. De acordo com os resultados provisórios, a coligação de centro-direita foi a mais votada em 14 dos 24 círculos eleitorais, enquanto a coligação de centro-esquerda no poder, Frente de Todos, foi a mais votada em nove. No Senado, o peronismo perdeu o quórum.

“Milhões de argentinos disseram basta e derrotaram a tristeza, a frustração, a dor, a raiva”, declarou a cabeça de lista de Juntos pela Mudança em Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, que vai passar a ocupar um lugar na Câmara dos Deputados, depois de ter sido governadora da província de Buenos Aires entre 2015 e 2019.

Nestas eleições legislativas, mais de 34 milhões de eleitores foram chamados às urnas para renovar 127 dos 257 lugares na Câmara dos Deputados, no qual nenhum grupo político tinha maioria, e 24 dos 72 assentos no Senado, dominado pela coligação no poder.

A Frente de Todos elegeu 118 deputados, enquanto o Juntos pelas Mudança terá 116 lugares. O Distritales somou dez deputados, o Vamos con Vos conseguiu cinco lugares, o Avanza Libertad quatro e a Izquierda outros quatro.

Contudo, pela primeira vez desde há mais de três décadas​, o peronismo não terá o quórum na Câmara de Senadores. A Frente de Todos ficou com 35 senadores e o Juntos pela Mudança 31, o Distritales três senadores e o Interbloque Federal outros três.

Na capital do país, com 99,4% dos votos contados, Maria Eugenia Vidal conseguiu uma vitória tranquila, ao obter 47% dos sufrágios.

Principal bastião da oposição, Buenos Aires é governada desde 2015 por Horacio Rodríguez Larreta, um dos principais membros da Juntos pela Mudança e potencial candidato às presidenciais de 2023.

Na província de Buenos Aires, o maior círculo eleitoral do país, são eleitos 35 dos 127 novos deputados.

Depois de conhecidos os primeiros resultados, o Presidente da Argentina, Alberto Fernández, pediu “prioridades para os acordos nacionais” nesta “nova etapa” que se abre para o país e na qual chegar a um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) será o “maior obstáculo”. 

“Devemos enfrentar este desafio para reparar, na medida do possível, o enorme dano que este endividamento causou e cujas consequências vão pesar sobre várias gerações”, declarou, numa mensagem difundida a partir da residência oficial.

Convencido de que “é tempo” de resolver o problema da dívida de 44 mil milhões de dólares (38,4 mil milhões de euros) contraída pelo Governo de Mauricio Macri, Fernández anunciou que vai enviar para o Congresso, em Dezembro, uma proposta de lei com “um programa económico plurianual para o desenvolvimento sustentável”.

Perante os resultados nas legislativas, em que a coligação de centro-esquerda conseguia evitar a catástrofe eleitoral que algumas sondagens antecipavam, o Presidente argentino defendeu uma “relação proveitosa” entre o Governo e o Congresso, na Câmara dos Deputados e no Senado, “no interesse geral do país”.

Estas foram as primeiras eleições com Fernández no poder, vistas pelos analistas como um referendo à gestão do país.

“Com esta eleição termina uma etapa muito dura do nosso país, marcada por duas crises. Uma, a crise económica, herdada do Governo anterior e da qual ainda há enormes desafios para resolver. Outra, a crise sanitária, causada por uma cruel pandemia que, a pouco e pouco, vamos superando”, afirmou.

Em diferentes passagens do discurso, o Presidente argentino destacou os sinais de recuperação da economia, que cresceu perto de 9% este ano e no início do próximo terá recuperado o que perdeu em 2020.

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