Manifestantes na Tunísia acusam Presidente de “golpe de Estado”

Centenas de polícias bloquearam a zona em redor do Parlamento, onde milhares de pessoas tentam chegar. Apesar de já ter nomeado uma primeira-ministra, chefe de Estado tunisino continua a legislar por decreto.

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Centenas de polícias bloqueiam a zona em redor do Parlamento MOHAMED MESSARA/EPA
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"Fora ditador", lê-se num dos muitos cartazes levados pelos manifestantes ZOUBEIR SOUISSI/Reuters

Milhares de pessoas saíram à rua da capital da Tunísia este domingo, acusando o Presidente tunisino de “golpe de Estado” ao invocar “perigo iminente” para demitir o Governo e assumir o poder judicial. A polícia já se envolveu em confrontos com alguns manifestantes junto ao Parlamento – centenas de polícias bloqueiam a zona em redor, impedido as pessoas de chegarem ao edifício onde funciona a assembleia, suspensa há quase quatro meses.

Os manifestantes acusam Kais Saied de “levar a Tunísia à falência” e de intimidar os meios de comunicação social. “Muitos levam grandes cartazes com impressões de fotografias de jornalistas e membros do Parlamento, advogados, que têm sido detidos ou presos desde 25 de Julho”, diz a jornalista Elizia Volkmann, da Al-Jazeera. Várias organizações não-governamentais tunisinas e internacionais têm criticado uma “tomada de poder” e expressaram receio em relação ao respeito de direitos e liberdades.

“Estamos sob governação de um só homem desde 25 de Julho... vamos ficar aqui até abrirem as estradas e acabarem com o cerco”, disse Jawher Ben Mbarek, um dos líderes dos protestos, citado pela Reuters.

A 25 de Julho, com a Tunísia mergulhada num impasse político e numa grave crise socioeconómica, o chefe de Estado demitiu o primeiro-ministro, suspendeu o Parlamento e assumiu o poder judicial. Dois meses depois, Kais Saied emitiu um decreto que suspendeu vários artigos da Constituição tunisina e impôs “medidas excepcionais” para vigorarem enquanto as “reformas políticas” são preparadas, incluindo emendas à Constituição de 2014.

O funcionamento do Parlamento continua suspenso, assim como os salários e benefícios dos deputados, e Kais Saied legisla sobre os próprios poderes por decreto. Mesmo depois de ter nomeado (em 29 de Setembro) a cientista Najla Bouden como primeira-ministra e de esta ter formado um novo Governo, o chefe de Estado continua a presidir ao Conselho de Ministros.

Foi na Tunísia que começaram as chamadas Primaveras Árabes, com a revolução pacífica que levou à queda do regime de Ben Ali, em Janeiro de 2011. Politicamente atribulada, a transição do país para a democracia tem escapado ao ciclo de golpes, violência e guerra em que mergulharam a maioria dos países que há quase onze anos viveram movimentos de revolta.

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