Gilberto Gil eleito novo membro da Academia Brasileira de Letras

Cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil, de 79 anos, tornou-se o novo “imortal” da ABL, ocupando a cadeira 20. Para o mesmo lugar, concorriam também o poeta Salgado Maranhão e o escritor Ricardo Daun.

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Gilberto Gil DR

O cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil, de 79 anos, foi eleito este sábado para o quadro de membros efectivos da Academia Brasileira de Letras (ABL), passando a ocupar a cadeira 20, antes pertencente ao jornalista Murilo Melo Filho (1928-2020)​. Gilberto Gil tornou-se assim um “imortal” da ABL, num evento que decorreu no palacete Petit Trianon, no Rio de Janeiro, uma semana após a actriz Fernanda Montenegro, de 92 anos, ter sido eleita, sem concorrência, para a cadeira 17.

“Gilberto Gil traduz o diálogo entre a cultura erudita e a cultura popular. Poeta de um Brasil profundo e cosmopolita. Atento a todos os apelos e demandas de nosso povo. Nós o recebemos com afecto e alegria”, declarou o presidente da ABL, Marco Lucchesi, citado em comunicado. Além de Gil, concorreram também para a cadeira 20 o poeta Salgado Maranhão e o escritor Ricardo Daun, mas o músico brasileiro saiu vencedor com 21 votos. “Muito feliz em ser eleito para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras. Obrigado a todos pela torcida e obrigado aos agora colegas de Academia pela escolha”, agradeceu Gil na rede social Twitter.

Seguindo o modelo da Academia Francesa, a ABL é constituída por 40 membros efectivos e perpétuos, apelidados de “imortais”. Além deste quadro composto por brasileiros, existem 20 membros correspondentes estrangeiros. Quando um membro da ABL morre, a cadeira é declarada vaga numa sessão denominada “Saudade”, tendo os interessados em ocupar a vaga dois meses para se candidatarem. A cadeira 20 tem como patrono o médico e jornalista Joaquim Manuel de Macedo e já pertenceu a um dos fundadores da ABL, Salvador de Mendonça. Participaram na votação deste sábado 34 académicos de forma presencial ou virtual, sendo que um deles não votou por motivos de saúde.

Música, exílio, política

Nascido em Salvador de Bahia, em 26 de Junho de 1942, Gilberto Gil iniciou a sua carreira no acordeão, ainda nos anos 1950, inspirado por Luiz Gonzaga, pelo som do rádio e pela sonoridade do nordeste brasileiro. Com a ascensão da bossa nova, o músico deixou de lado esse instrumento e passou a usar o violão e, em seguida, a guitarra eléctrica, presentes na sua obra até hoje. “As suas canções desde cedo retratavam seu país, e sua musicalidade tomou formas rítmicas e melódicas muito pessoais. Seu primeiro disco, Louvação, lançado em 1967, concentrava a sua forma particular de musicar elementos regionais, como nas conhecidas canções Louvação, Procissão, Roda e Viramundo”, detalhou a ABL em comunicado.

Em 1967, Gilberto Gil iniciou com Caetano Veloso uma parceria e um movimento, denominado Tropicália, que a par da música viria a envolver cinema, artes plásticas, teatro e poesia. O álbum Tropicália ou Panis et Circencis, publicado em 1968, contou com a participação, além de Gil e Caetano, de cantores e músicos como Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé, os poetas Capinam e Torquato Neto e o maestro Rogério Duprat, autor dos arranjos do disco.

“O movimento gerou descontentamento da ditadura vigente, que o considerava nocivo à sociedade com os seus gestos e criações libertárias, e acabou por exilar os parceiros. O exílio em Londres contribui para a influência do mundo pop na obra de Gil, que gravou inclusive um disco [na capital britânica] com canções em português e inglês”, acrescentou a Academia. Ao regressar ao Brasil, juntamente com Caetano Veloso, Gil deu continuidade à sua produção musical, que dura até aos dias de hoje e que acumula quase 60 discos e cerca de quatro milhões de cópias vendidas, tendo sido premiado com nove Grammys.

Em 2002, após a sua nomeação como ministro da Cultura, cargo que ocupou entre 2002 o 2008, durante parte dos dois mandatos do então presidente Lula da Silva, o agora académico da ABL passou a circular também pelo universo sociopolítico, ambiental e cultural internacional, sendo também nomeado embaixador da ONU para a agricultura e a alimentação.

Gilberto Gil terminou no dia 7 de Novembro, em Portugal, uma digressão europeia que percorreu treze cidades em vários países antes rodar por cinco cidades portuguesas (respectivamente Vila Real, Castelo Branco, Lisboa, Braga e Santarém), acompanhado pela cantora Adriana Calcanhotto.

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