Marcelo promulga resgate de autarquias, mas mantém as “reservas” que levaram ao veto inicial

Estas alterações foram aprovadas em Julho e confirmadas este mês pelo Parlamento, com os votos a favor de PS, PCP e PEV e com os votos contra dos restantes partidos.

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Marcelo tinha pedido as alterações para depois das autárquicas LUSA/LUÍS FORRA

 O Presidente da República promulgou as alterações ao programa de resgate das autarquias, que tinha vetado em Agosto e que foram confirmadas por PS, PCP e PEV, sublinhando que se mantêm “as mesmas reservas”, anunciou esta sexta-feira a Presidência.

As alterações ao Programa de Apoio à Economia Local (PAEL) foram vetadas em Agosto pelo Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, que argumentou com a proximidade das eleições autárquicas, em 26 de Setembro, e considerou que estava em causa “a eventual não aplicação de sanções a um número preciso e limitado de autarquias locais, relativas ao PAEL”.

“Verificando-se que a objecção quanto ao momento eleitoral - as eleições autárquicas -, foi devidamente tomado em conta” e que “a matéria substancial questionada - que continua a merecer as mesmas reservas -, acabou por ser confirmada, nos termos constitucionais, o Presidente da República promulgou o Decreto da Assembleia da República sobre a alteração às regras de enquadramento do Programa de Apoio à Economia Local”, lê-se na nota publicada na Presidência da República.

As mudanças introduzidas ao diploma do PAEL, criado em 2012, prevêem que “o Plano, e todas as obrigações dele constantes, cessam, com todos os seus efeitos, no momento da liquidação completa do empréstimo concedido pelo Estado” e que a cessação do plano “obsta à aplicação de sanções”, “extinguindo quaisquer procedimentos sancionatórios pendentes àquela data”.

Estas alterações foram aprovadas em Julho e confirmadas este mês pelo Parlamento, com os votos a favor de PS, PCP e PEV e com os votos contra dos restantes partidos. Quando o Parlamento confirma um diploma que foi alvo de veto político, o Presidente da República tem de o promulgar.

Na reapreciação do diploma, em 5 de Novembro passado, PSD, BE, CDS-PP, PAN, Iniciativa Liberal e Chega fizeram eco das considerações do Presidente da República aquando do veto e consideraram que PS e PCP querem “amnistiar” e dar uma “carta de alforria” a cinco presidentes de câmara que não cumpriram com as regras do PAEL, sendo todos eles do PS (Alfândega da Fé, Aljustrel, Cartaxo, Covilhã) e do PCP (Évora).

PS e PCP voltaram a ser acusados de, a pretexto de uma flexibilização das regras do PAEL, quererem “branquear” actos potencialmente criminosos de autarcas concretos, quando a lei deve ser “abstracta”.

Já em relação a uma segunda mudança no diploma, que deixa cair a obrigatoriedade de os municípios do PAEL cobrarem taxas máximas de IMI (Imposto Municipal Sobre Imóveis), houve unanimidade no apoio entre os partidos.

O deputado do PS Luís Testa reiterou as propostas socialistas e argumentou que a aprovação de Julho foi o culminar de um processo de “discussão larga” no parlamento.

“Aquilo que pretendemos defender é a autonomia, o equilíbrio financeiro dos municípios, mas que isso não possa onerar as populações”, disse o deputado do PS. “Só são abrangidos por estas propostas de alteração municípios que tenham cumprido cabalmente com as suas obrigações perante o PAEL”, reforçou, em resposta às críticas.

Já a deputada do PCP Paula Santos sublinhou que os comunistas sempre foram contra o PAEL, criado no âmbito do programa de resgate financeiro do país, e que “se houve possibilidade de encontrar soluções que desoneravam as populações, que não aumentavam preços, que não aumentavam impostos”, tem o apoio do Partido Comunista.

Paula Santos considerou que na base do veto presidencial esteve uma “questão de oportunidade” já ultrapassada (o calendário eleitoral) e não um “aspecto em concreto”.

A deputada disse ainda que o PAEL de Évora foi “responsabilidade do PS”, que o assinou, e que foi já arquivado em 2019 o processo que envolvia o cumprimento do programa naquela câmara.

O PAEL estabeleceu um regime excepcional e transitório de concessão de crédito pelo Estado aos municípios para regularização do pagamento das dívidas a fornecedores vencidas há mais de 90 dias, tendo como referência 31 de Março de 2012. O contrato de empréstimo foi celebrado por 103 municípios entre 2012 e 2015. Num balanço em Abril, a Direcção-Geral das Autarquias Locais (DGAL) divulgou que, dos 103 municípios que contraíram empréstimos no PAEL, apenas Santa Comba Dão e Lamego tinham planos activos, enquanto Vila Real de Santo António tinha integrado o respectivo plano noutro programa, o Fundo de Apoio Municipal (FAM).

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