Os “soldados-fantasma” afegãos foram incapazes de travar os taliban

Ex-ministro das Finanças acusa os oficiais corruptos que empolaram a dimensão do exército para poderem arrecadar as verbas destinadas a financiar o exército.

Foto
Um soldado do antigo exército afegão MOHAMMAD ISMAIL/Reuters

A maioria dos 300 mil soldados e polícias que o antigo Governo afegão afirmava que o país tinha não existiam realmente. Khalid Payenda, ex-ministro das Finanças do Afeganistão acusa altos funcionários e oficiais militares de terem inventado um exército de “soldados-fantasma” para arrecadarem o dinheiro que estaria destinado a financiar as tropas.

As declarações de Khalid Payenda à BBC vêm confirmar aquilo que já se desconfiava, o grande exército que os Estados Unidos andaram a treinar e financiar durante os 20 anos de ocupação afinal era uma ficção.

“A forma como era feita a prestação de contas era perguntando ao chefe daquela província quantas pessoas tinha e, com base nisso, calcular despesas com salários e refeições, que eram sempre inflacionados”, disse o ministro, que se demitiu e fugiu do Afeganistão antes da chegada dos taliban a Cabul.

Payenda garante que é injusto afirmar que o exército afegão tinha muito mais homens que os taliban, quando os efectivos não existiam e eram apenas um estratagema para os generais ficarem com o dinheiro.

Segundo o ex-governante, o exército afegão teria, na verdade, uns 50 mil homens, já que no seu cálculo, o número teria sido multiplicado por seis. E incluía “desertores” e “mártires”, que nunca eram retirados dos cadernos “porque alguns dos comandantes ficavam com os seus cartões bancários” e levantavam os salários.

Um relatório de 2016 do Inspector Especial para a Reconstrução do Afeganistão norte-americano referia que “nem os Estados Unidos nem os seus aliados afegãos sabem quantos soldados e polícias afegãos realmente existem, quantos estão realmente disponíveis para o serviço ou a verdadeira natureza da sua capacidade operacional”.

O avanço rápido dos taliban em direcção a Cabul e a forma como o Governo de Ashraf Ghani caiu no espaço de semanas, depois do anúncio da saída das forças norte-americanas do Afeganistão, veio demonstrar que a capacidade operacional do seu exército era realmente diminuta e que dependia em grande medida do poder norte-americano e das outras forças da NATO no terreno.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários