Abusos sexuais: D. José Ornelas promete que Igreja fará “tudo para apurar a verdade histórica”

Presidente da Conferência Episcopal desafiou os bispos portugueses a olhar para o passado dos abusos sexuais cometidos no seio da Igreja. E deixou duras críticas à aprovação da eutanásia “por uma Assembleia da República moribunda”.

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D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa Adriano Miranda (arquivo)

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, prometeu esta segunda-feira que a Igreja Católica portuguesa fará tudo “para apurar a verdade histórica” dos abusos sexuais cometidos por membros do clero português.

“Faremos tudo para proteger as vítimas, apurar a verdade histórica e impedir estas situações dramáticas que destroem pessoas e contradizem o ser e a missão da Igreja”, declarou, no discurso que marcou o arranque da Assembleia Plenária da CEP de cuja ordem de trabalhos consta a criação de um organismo centralizador das denúncias que forem chegando às comissões criadas em cada diocese para acolher as queixas e proteger as vítimas.

Entre os bispos que lideram cada uma das 21 dioceses subsistem vincadas divergências quanto à pertinência de se fazer avançar em Portugal com um levantamento retrospectivo dos casos de abuso, à semelhança do que já foi feito em países como a Irlanda, França, Alemanha e Polónia, entre muitos outros, e cujos resultados foram, invariavelmente, avassaladores para a estrutura hierárquica das respectivas igrejas.

As palavras que D. José Ornelas escolheu para se dirigir aos bispos reunidos em assembleia (cujas decisões podem vincular as dioceses, desde que aprovadas com pelo menos dois terços dos membros de pleno direito) parecem indiciar que o presidente da CEP está inclinado para se fazer avançar tal levantamento, indo assim além daquilo que se quer que seja uma melhor articulação entre as diferentes dioceses e a clarificação dos respectivos processos de acolhimento das vítimas e sancionamento dos perpetradores dos abusos.

A Igreja portuguesa tem, de resto, sido frequentemente desafiada a lançar esse olhar retrospectivo sobre as suas práticas, nomeadamente por parte de protagonistas do sector político, como sejam o secretário de Estado adjunto e da Educação, João Costa, e o deputado socialista José Mendes, entre vários outros.

Refira-se, a propósito, que Portugal é, a par com a Itália e com a Espanha, dos poucos países europeus que resistem aos apelos do Papa Francisco no sentido de trazer o problema para cima da mesa, sendo que em Espanha o parlamento catalão se prepara para votar dentro de pouco tempo uma proposta que procura obrigar a Igreja local a olhar para o seu passado.

Crítica à aprovação da eutanásia

O presidente da CEP também não deixou passar em branco a aprovação da eutanásia no passado dia 5 de Novembro por um Parlamento em passo de corrida porque à beira da dissolução. “Diante deste quadro político em que o país mergulhou, torna-se ainda mais incompreensível a discussão e aprovação da lei da eutanásia por uma Assembleia da República moribunda”.

Para o representante dos bispos portugueses, “o modo e o momento desta iniciativa parlamentar lançam um ulterior manto de sombra sobre todo o processo desta lei que não dignifica os últimos dias desta legislatura”.

“As mais altas instâncias do país devem pronunciar-se de acordo com as prerrogativas constitucionais de que dispõem”, acrescentou, num apelo dirigido directamente ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para que este vete ou volte a pedir a fiscalização da lei ao Tribunal Constitucional, como fizera em Fevereiro, na sequência da primeira aprovação da lei. 

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