Seis activistas palestinianos foram vigiados pelo Programa Pegasus israelita

Segundo as investigações, a espionagem ocorreu entre Julho de 2020 e Abril de 2021 e é o primeiro caso conhecido de defensores dos direitos humanos palestinianos que foram alvo do spyware da empresa israelita

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As revelações não indicam quem é o responsável pela vigilância aos dispositivos móveis dos activistas ALY SONG/Reuters

Os telemóveis de seis activistas palestinianos pelos direitos humanos – três deles trabalham para organizações recentemente acusadas por Israel de serem grupos terroristas – foram espiados pelo programa Pegasus, um spyware da empresa israelita NSO.

As descobertas, divulgadas nesta segunda-feira, foram feitas no âmbito de uma investigação do Front Line Defenders (FLD), um grupo de defesa dos direitos humanos sediado em Dublin. As conclusões foram depois corroboradas com “elevada confiança” pelos especialistas do Citizen Lab da Universidade de Toronto e pela Amnistia Internacional, confirmando que se trata do primeiro caso conhecido de activistas palestinianos que foram alvo do programa.

Três deles consentiram ser identificados: Ubai Aboudi, economista de 37 anos, dirige o Bisan Center for Research and Development; Ghassan Halaika, investigador do grupo Al-Haq; e Salah Hammouri, do grupo pelos direitos humanos Addameer.

Os relatórios não indicam quem é responsável pela vigilância nem há provas de que foram as autoridades israelitas a ordenar a vigilância dos seis palestinianos. Mas há suspeitas nesse sentido. Isto porque, no mês passado, as autoridades israelitas acusaram seis organizações de serem terroristas – associadas a três dos vigiados –, alegadamente por estarem ligadas à Frente Popular para a Libertação da Palestina, uma facção política armada que já realizou ataques em Israel. Contudo, as acusações têm sido negadas pelos grupos e denunciadas por organizações e pela comunidade internacional.

De acordo com Ron Deibert, professor canadiano e dirigente do Citizen Lab, a análise mostrou que a vigilância dos seis indivíduos aconteceu antes de Israel ter classificado os grupos como terroristas, escreve o Guardian, entre Julho de 2020 e Abril de 2021.

Questionado sobre as revelações, um porta-voz do grupo NSO disse não poder confirmar ou negar quem são os seus clientes: “A empresa não opera os produtos em si (…) e não temos conhecimento dos detalhes dos indivíduos monitorizados.” O Governo israelita ainda não comentou a situação, porém, as revelações devem desencadear mais críticas contra a sua polémica decisão.

Ainda que sem apontar culpados, alguns dos grupos visados exigem a abertura de uma investigação internacional. “As Nações Unidas são responsáveis pela protecção dos direitos humanos e têm a responsabilidade de abrir uma investigação para garantir que os países não usam este software para reprimir os defensores dos direitos humanos”, apelou Sahar Francis, directora da organização Addameer, citada pela Reuters.

software de espionagem Pegasus foi usado para vigiar jornalistas, activistas, empresários e políticos de vários países, nomeadamente da Hungria, Índia, Arábia Saudita, Azerbaijão, México e Marrocos, segundo um consórcio de investigação internacional. As mais recentes revelações aumentam a pressão sobre a NSO, que na semana passada foi incluída na lista negra de comércio dos Estados Unidos.

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