No Pico, uma antiga destilaria tornou-se alojamento de luxo (e continua a produzir aguardente)

Tem o mar diante, a montanha atrás e uma história feita de “festas, alegria e abundância”. Depois da ruína, é esse o espírito que a Adega do Fogo tenta recuperar, agora como casa de férias que mantém a história e lhe acrescenta experiências à medida. E bem tradicionais, como apanhar caranguejos à noite ou bailaricos de chama-rita.

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Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
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Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
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Adega do Fogo
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Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
Adega do Fogo
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Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
,Francisco Nogueira / Fotografia de Arquitetura
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Adega do Fogo
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Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira

“Isto está desgarrado, no meio de sítio nenhum, uma planície de lava, escuro”. As palavras são de Benedita Branca e nelas teremos que acreditar: a Adega do Fogo está no meio de nenhures e que bem parece estar. Na verdade, este “nenhures” é o lugar do Cabrito (Santa Luzia), ilha do Pico, e, afinal, percebemos, são cerca de 12 “adegas” - que é como quem diz, casas de fim-de-semana de quem vive na cidade. Assim, aos fins-de-semana há, normalmente, três casas ocupadas; depois, existem outras em regime de Airbnb e outras ainda que pertencem a emigrantes nos EUA, pelo que só no Verão se abrem. E a Adega do Fogo ocupa-se quando há clientes - com tempo, e, importante, dinheiro.

Nas traseiras está a montanha do Pico, à frente o Atlântico - “a 20, 30 metros quando se sai do portão principal”, descreve, “e há uma poça de banhos a dois minutos a caminhar”. Há também uma piscina aquecida, “que reflecte o Pico”, uma sauna instalada ao lado de um tradicional tanque de captação de águas da chuva. Isto, contudo, são “as modernices”, como lhes chama Benedita; porque antes de tudo há “edifícios históricos com cerca de 200 anos”. “Não se sabe a data certa, mas é de 1800 e pouco”, explica Benedita referindo-se à casa solarenga que foi de apoio à destilaria que aqui funcionava.

“O solar tinha o propósito de alojar a equipa de produção de aguardente”, descreve, “que ficava sempre depois da vindima, até Março”. No Verão, continua, a casa era menos utilizada, “mas os donos usavam para férias, festas… As pessoas ainda falam das ‘festas a que fui no Cabrito, com banda contratada para tocar’”, conta Benedita. Todas as informações que teve sobre a propriedade estavam relacionadas com “festas, alegria, abundância, celebração”. E foi isso que sentiu “um pouco no espírito da casa” quando ali chegou pela primeira vez, mesmo estando esta “arruinada, com o telhado a cair”.  “Havia alegria, não era como um castelo a cair e cheio de fantasmas”, brinca.

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Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira

Não hesitou: depois das Lava Homes buscava outro projecto no Pico, ilha que conhece há 40 anos e para onde se mudou há cinco anos, e foi neste pedaço de terra que fez nascer a Adega do Fogo, que abriu em Julho mas que ainda não está totalmente cumprida. Voltará a destilar aguardente - faltam apenas as licenças. “Na Primavera conto já estar a servir a nossa aguardente aos hóspedes”, prevê, “até agora temos recorrido a vizinhos”. Não é uma questão de somenos no projecto de Benedita: sempre quis manter a essência do lugar e, diz, deixava-a “muito angustiada” pensar que alguém a pudesse comprar (“agora há muita procura, de estrangeiros inclusive”) e “restaurar tudo a eito”. Produzir aguardente sempre fez, portanto, parte dos seus planos, e nem os contorcionismos que teve fazer a fizeram esmorecer.

Foi tudo restaurado - na casa principal, fizeram-se os seis quartos que a propriedade tem, onde antes existiam apenas dois, mais sala, cozinha e um armazém no rés-do-chão; a destilaria, que tinha quatro alambiques, foi dividida: numa metade mantêm-se dois dos alambiques, que vão funcionar, a outra metade é uma grande sala de jantar; no exterior, fechou-se um telheiro para sala de estar. Foi o facto de querer manter a produção de aguardente que obrigou a “improvisar” a sala de estar . “É muito complicado”, recorda, “como estamos numa zona protegida pela UNESCO, não podemos levantar uma pedra. Ou fazia sala de estar externa ou não podia produzir aguardente. Mas isso seria matar a alma do sítio… Aliás, também podia fazer quatro quartos aí…”.

Este foi um dos maiores alambiques da ilha, conta, chegou a funcionar 24 horas por dia. Foi também um alambique comunitário, aberto às pessoas que queriam “queimar”. Benedita espera agora as licenças que lhe permitiram queimar “o que quiser”: pêra, maça, uvas… - “Vou às estufas e escolho”. Vai manter a produção artesanal - faz-nos a descrição do processo - e com recurso aos meios antigos: do poço de marés que existe na propriedade (pouco mais de dez metros de profundidade e oito de diâmetro, “o maior da ilha”) virá a água que envolverá a serpentina do alambique; do tanque de captação de água da chuva, a água destilada a utilizar caso seja necessário diluir a aguardente. Não prevê fazer mais de 30, 40 garrafas para servir aos seus hóspedes.

A vontade de “querer manter as coisas” também se transpôs na recuperação dos espaços que foi o mais possível à imagem do que existia. A pedra negra permanece nas paredes, o chão é de carvalho na zona dos quartos, de cimento afagado na antiga destilaria; o mobiliário é de castanho e bastante despojado - por exemplo, os armários dos quartos “fazem lembrar os portões das vinhas do Pico”, aponta, que “não são compactos, se não, com o vento forte, iam ao chão. Os armários também têm esse arejamento”.

E quem aqui chega deve querer o arejamento das longas estadias - estas são a vocação assumida da Adega do Fogo. Aqui, aposta-se em experiências à medida e para isso é preciso tempo, considera Benedita: não se aceitam reservas para estadias de menos de cinco dias - e o aconselhável mesmo são sete, diz. “Menos não se sente o Pico nem se desfruta sequer da Adega”, avalia. Quem vem à ilha, afirma, tem sempre pelo menos dois planos, “subir ao Pico e ver as baleias” e nisso “já vão dois dias”. Podem também querer visitar o resto “do triângulo de ilhas”, ou seja, ir ao Faial e a São Jorge, prossegue. “E este não é sítio só para dormir”, defende, há que aproveitar. O óbvio - a piscina e a sauna - e o menos óbvio.

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Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira
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Adega do Fogo, ilha do Pico Francisco Nogueira

“Aqui queremos ser anfitriões”, afirma, “receber as pessoas e estabelecer relação com elas. Levamos um ou dois dias a perceber os grupos”. É nesse convívio - o primeiro dia, normalmente, é muito formal, no segundo já ajudam a levantar a mesa, no terceiro já se envolvem a lavar pratos, descreve - que surgem as propostas de actividades. Desde aulas de ioga e massagens a passeios de bicicleta “pela costa pelo Lajido ou Arcos com um mergulho”, de “pesca de carapauzinho ou apanha de caranguejos à noite, com lanternas na cabeça” a cozinha ao vivo, de animação com tocadores de guitarras do Pico e bailaricos de chama-rita a idas à horta da casa (onde tudo tem um “tamanho descomunal”).

Toda esta experiência é “de nicho”, assume Benedita, e a casa é alugada inteira - seja para a lotação de 12 seja apenas para quatro pessoas, como já aconteceu. Os preços são eloquentes: dois mil euros por noite durante a temporada alta (entre Abril e Outubro); entre Novembro e Março podem alugar-se quartos (400 euros por noite), sendo que a reserva tem de ser para pelo menos dois quartos, com a garantia de que a casa estará totalmente disponível apenas para essa reserva.

“Temos jardineiro, governanta, piscina aquecida, pequeno-almoço à hora escolhida…”, enumera Benedita. As refeições não estão incluídas na oferta - só a pedido dos hóspedes se deslocará um chef à casa para cozinhar (sempre comida tradicional açoriana) -, mas há uma cozinha para uso próprio - para uma espécie de funcionamento em auto-gestão.

Mais informações sobre o projecto no site oficial.

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