CTT: a urgência de uma intervenção

Serviço piorou ainda mais a partir de 1 de julho, quando acabou a isenção de IVA e de franquia aduaneira nas compras extracomunitárias até aos 22 euros.

Os CTT já foram uma das mais exemplares empresas do país. Desde que Passos/Portas decidiram irresponsavelmente privatizá-la tornou-se uma das piores empresas do país. E piorou ainda mais a partir de 1 de julho deste ano, quando entraram em vigor regras comunitárias que deveriam favorecer o seu bom funcionamento, e favoreceram a cobrança de mais impostos e direitos aduaneiros por qualquer encomenda enviada de países não comunitários.

Alguma imprensa tem dado conta das muitas reclamações de pessoas e empresas, não só por causa de incríveis atrasos nas entregas de correio postal e de encomendas mas também por extravios, por confusões inadmissíveis de serviços automáticos e de funcionários impreparados, muitos dos quais obviamente precários, que nem querem saber se se trata de objetos comerciais ou não comerciais, de valor superior ou inferior a 22 euros, e até por erros de funcionamento do “portal de desalfandegamento”.

Há tempos, recebi uma notificação para desalfandegar um “objeto postal”, com a indicação “livros”, enviado do Brasil para a minha morada no Porto e retido em Lisboa, pois deixou de haver desalfandegamento no Porto; não sabia quem o enviara, e o “portal de desalfandegamento” exigia-me  o nome e endereço do remetente, o valor do “objeto”,  o preço dos portes; respondi por várias vezes que não podia dar tais informações, mas que elas acompanhavam obviamente o “objeto”; e a resposta era sempre e só o envio de outra cópia da “notificação”; apenas ao fim de algumas semanas, depois de recorrer ao provedor do cliente, me foi enviado o “objeto” .

Em 4 de agosto deste ano recebi a “notificação para desalfandegamento” de um “objeto” enviado dos Estados Unidos com a indicação do conteúdo: “newspapers”. Achei estranha a retenção alfandegária, lembrei-me do tempo em que jornais, revistas e livros gozavam de reduções postais e aduaneiras, mas tentei preencher o “portal do desalfandegamento”; só que no retângulo onde era pedido o meu email aparecia, e não desaparecia, a minha morada, o que inviabilizava o devido preenchimento. Dei conta disso aos serviços “Para dúvidas e questões” dos CTT, sem nenhum resultado; e depois de uma senhora do “apoio ao cliente”, me avisar de que o prazo do desalfandegamento expirara, sem nada dizer a respeito da minha queixa, que no entanto transcrevia, lavrei o meu protesto, que em 8 de outubro mereceu a outra senhora do “apoio ao cliente”: “Informamos que o prazo de desalfandegamento da encomenda (…) encontra-se expirado, como teve falhas técnicas no Portal Aduaneiro reencaminhamos a situação para análise interna. Sugerimos que durante este período deve ir tentando aceder ao Portal de Desalfandegamento e verificar se já consegue efetuar o processo. Voltaremos ao seu contacto, assim que obtivermos uma resposta conclusiva.”

Fui tentando “aceder ao Portal”, que manteve o erro, e aguardei o contacto, que não veio; só me veio agora dos Estados Unidos a informação de que o “objeto postal” com os jornais fora devolvido.

Entretanto recebi em 3 de outubro outra notificação referente a outro “objeto” enviado do Brasil, que soube por quem o enviou ser um livro publicado naquele país com um prefácio meu. Claro que também não pôde ser desalfandegado e já terá sido devolvido ao remetente. E o editor brasileiro de um livrinho meu garantiu-me e pode provar que me enviou em 8 de junho um pequeno pacote com cinco exemplares que nunca recebi, como nem recebi qualquer notificação a respeito. Deve estar entre as mais de meio milhão de encomendas paradas em armazéns de que falou em 1 de outubro o Expresso, que não suscitou nenhum comentário dos responsáveis pelos CTT.

Esta empresa tornou-se um cancro na vida do país, causa prejuízos diários a centenas de empresas e a milhares de portugueses, pelos quais deveria ser judicialmente penalizada. Mas a irresponsabilidade ou a incompetência com que é gerida justifica uma urgente intervenção política.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários