Juros da dívida resistem a início da retirada dos estímulos da Fed

Promessas de prudência feitas pelos bancos centrais parecem, para já, convencer investidores, evitando tensões nos mercados de dívida pública. Juros da dívida portuguesas voltaram a descer.

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Reuters/POOL

A confirmação do início da retirada dos estímulos monetários por parte da Reserva Federal dos EUA (Fed) não impediu que as taxas de juro da dívida pública na zona euro, incluindo a portuguesa, tivessem mantido, durante a manhã desta quinta-feira, uma trajectória descendente. Um sinal de que os investidores estão a acreditar nas promessas feitas pelos dirigentes dos bancos centrais de que irão agir com prudência.

Durante esta manhã, a taxa de juro da dívida pública portuguesa a 10 anos baixou, de acordo com os dados disponibilizados pela Reuters, a barreira dos 0,4%. É o terceiro dia de descida depois de este indicador – que revela a taxa de juro implícita que os investidores aceitam nas transacções dos títulos de dívida no mercado secundário – ter chegado aos 0,565% no primeiro dia de Novembro, o máximo dos últimos quatro meses.

A descida dos últimos dias parece revelar que, finalmente, após dois meses de pressão em crescendo, os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) e da Reserva Federal norte-americana estão a conseguir mitigar o receio que se instalou nos mercados de que a recente escalada da inflação obrigue a uma inversão brusca da política monetária.

Curiosamente isto acontece ao mesmo tempo que nos Estados Unidos a Fed confirma que irá começar a retirar os estímulos monetários extraordinários que lançou durante a crise. Esta quarta-feira, a entidade liderada por Jerome Powell anunciou que irá, já a partir do início deste mês, reduzir de forma progressiva a dimensão do programa de compra de dívida pública norte-americana criado no início da pandemia. 

O ritmo de compras mensais ascende actualmente a 120 mil milhões de dólares e a Fed irá, a partir de agora, reduzir este montante em 15 mil milhões de dólares ao mês, com o objectivo de pôr um ponto final definitivo no programa em meados de 2022.

É o início do fim da política ultra-expansionista lançada pelo banco central dos EUA para ajudar a economia a enfrentar a pandemia, algo que poderia assustar os investidores e conduzir a uma subida de taxas de juro. No entanto, não só este anúncio de uma retirada progressiva já era amplamente esperado, como veio acompanhado de uma nova promessa do presidente da Fed, Jerome Powell, de que este banco central será muito prudente na forma como irá mudar o rumo da sua política monetária.

Na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio da decisão, o presidente da Fed voltou a defender que a recente subida da inflação, que nos EUA já ultrapassou os 5%, deverá ser “transitória” e que, por isso, a autoridade monetária irá ser “paciente” na hora de decidir quando é que começa a subir as suas taxas de juro de referência. “Não acreditamos que seja a hora de subir as taxas de juro. Ainda há muito terreno a percorrer até que se atinja um nível de emprego máximo”, afirmou Jerome Powell na conferência.

Também na quarta-feira, durante a sua visita a Portugal, a presidente do BCE, Christine Lagarde, voltou a defender que a subida da taxa de inflação na zona euro, que se situou em 4,1% em Outubro, é explicada por factores de carácter temporário e que, por isso, os planos de retirada progressiva das medidas de estímulo monetário não serão alterados. 

Christine Lagarde afirmou, numa conferência organizada pelo Banco de Portugal, ser “muito improvável” um cenário em que o BCE comece a subir as taxas de juro de referência logo em 2022, pois “um aperto indevido das condições de financiamento não é desejável, num quadro em que o poder de compra já está a ser limitado pelos preços mais elevados na energia e nos combustíveis, e representaria uma dificuldade inapropriada para a retoma”.

Em Dezembro, o conselho de governadores do BCE irá decidir como é que irá proceder à retirada progressiva das medidas de estímulo, nomeadamente, como é que irá agir em Março após o final do prazo definido para o programa extraordinário de compras de dívida pública lançado para combater os efeitos da pandemia.

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