Cartas ao director

E agora?

Todos sabiam que o chumbo do Orçamento não interessava ao país. Desencadear uma crise política é de somenos importância, o aliciante é a sobrevivência política dos partidos. Marcelo, antes da votação do OE, veio imprudentemente agitar o país com a ameaça de eleições antecipadas. Só um golpe de asa pode alterar a tendência da queda eleitoral da direita.

A situação interna do PSD e do CDS ajuda a esquerda, mas será suficiente para uma votação reforçada no PS? Vamos assistir ao reviver da “geringonça”? A uma aliança PS/PAN? O PS obterá apoio parlamentar sob a tutela da instabilidade política dos partidos mais à esquerda? O PS vai fazer acordos com o PSD? Ninguém sabe, o que se sabe é que Portugal passará dias turbulentos quando precisava de serenidade para enfrentar as desigualdades sociais (saúde, pobreza e habitação), combater a corrupção com firmeza, e apostar forte na formação dos mais jovens.

O povo português, ao longo dos vários actos eleitorais, penaliza quem tem mais olhos que barriga. Vai penalizar aqueles que demonstraram falta de bom senso e sensibilidade face ao momento de crise em que vivemos. A vida política portuguesa está definhando e a deixar os portugueses com os nervos em franja. Esta situação aumenta a abstenção e é uma grande ajuda para os partidários da extrema-direita.

Carlos Oliveira, Funchal

D. Sebastião

A política é um exercício de convicções e do seu contrário, sentindo os seus protagonistas absoluto conforto com isso. O OE chumbou, uns dizem que podem governar por duodécimos, outros que poderia haver outro Orçamento sem problema, porquê eleições? Outros querem o interesse do país acima de tudo, no entanto todos, com uma excepção, têm receio de D. Sebastião, não o que desapareceu no nevoeiro mas aquele que ainda não apareceu mas todo o país já o viu. Já vamos em seis anos de anemia, não é por duas semanas que vamos perder a vitalidade, têm medo de quê?

Luís Duarte, Oliveirinha

Promessas e compassivas intenções

Com a ausência da China – Xi Jinping deixou somente uma vaga mensagem escrita – e da Rússia (primeiro e quarto países mais poluidores do mundo) na 26.ª Conferência sobre as alterações climáticas que se realiza em Glasgow e com a Índia (3.º poluidor), a comprometer-se a atingir a neutralidade carbónica só no longínquo ano 2070, assim foi dado o mote para a resolução do aquecimento global. Isto é um mau presságio para atacar o problema que está a ser postergado por alguns países que mais poluem. Emerge, a curto prazo, a dificuldade de uma transição energética atempada que ainda possa salvar o mundo. Sem a verdadeira união, empenhamento e conjugação de esforços dos países mais poluidores no sentido da diminuição das emissões de gases com efeito de estufa, esta Conferência de Glasgow não passará de um encontro de países que, em teoria, estarão de acordo quanto aos objectivos da implementação do Acordo de Paris, mas, na prática, não estarão tão resolutivos. Daí que as palavras do secretário-geral da ONU não deixem de fazer sentido: “Estamos a cavar a nossa própria sepultura.” Oxalá não se confirmem estas palavras premonitórias de um mundo distópico a caminho da agonia.

António Cândido Miguéis, Vila Real

Representatividade democrática e seus custos

O artigo da jornalista Maria Lopes no PÚBLICO mostra-nos a proporcionalidade entre eleitos e eleitores na União Europeia. No artigo destacou o facto de a Espanha ter uma proporção de deputados por eleitores inferior aos restantes países e com uma grande diferença de Portugal. Em Portugal a proporção de deputados por eleitores é de 40.600/deputado, enquanto em Espanha é de 134.000/deputado. Para os populistas quando comparam Portugal, com estes dados, estão a esconder uma grande diferença, é que Portugal tem apenas o Parlamento, enquanto a Espanha tem, além do parlamento com 350 deputados, o Senado composto por 266 senadores, os parlamentos regionais e os municípios. Portugal, de entre os países médios da União Europeia, é o único que não tem regiões administrativas, nem Senado, é portanto, um dos poucos países que só têm um órgão representativo. Em conclusão, proporcionalmente, as despesas com a democracia em Portugal são das mais baixas da União Europeia, ou não será?

Mário Pires Miguel, Reboleira

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