Mísia num duplo reencontro: “Com o público e com músicas que estão dentro de mim”

Chamou-lhe As Mais Bonitas e vai ser, no palco do CCB, em Lisboa, um reencontro de Mísia com o público e com canções que lhe moldaram a vida. Esta quinta-feira, às 19h.

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Mísia retratada por Anne-Sophie Tschiegg (visão parcial)

Cantora, fadista, voz rodada pelo mundo e com múltiplas ligações internacionais, Mísia está de volta aos palcos, num reencontro com o público. Não só: também com canções que tiveram um significado maior na sua vida e na das pessoas que as ouviram, como ela diz agora ao PÚBLICO, na véspera do concerto. Amenizados os efeitos da pandemia sobre a música ao vivo (embora a covid-19 ainda persista, com indesejáveis efeitos), o regresso às salas tem-se feito com os devidos cuidados, mas com um alívio nas restrições mais duras.

É assim que, esta quinta-feira, Mísia subirá ao palco do CCB, em Lisboa, às 19h, para apresentar As Mais Bonitas, um concerto no qual terá consigo apenas três músicos: o maestro napolitano Fabrizio Romano, que já trabalha com Mísia há vários anos (piano e direcção musical), Bernardo Couto (guitarra portuguesa) e Daniel Pinto (viola de fado). A imagem que anuncia o concerto não é uma fotografia, mas sim um retrato da cantora, num quadro a cores da pintora francesa Anne-Sophie Tschiegg, que assistirá ao concerto.

As canções e fados escolhidos são vários, e todos eles têm uma história. Como o tema de abertura, Não guardo Saudade à vida (que Mísia gravou no álbum Ritual, de 2001): “O tema com que abre o concerto, e que canto poucas vezes, é um texto excepcional do Helder Moutinho e que resume o que é a minha vida e a de outras pessoas que o cantem. É como se a vida nos ensinasse, ou obrigasse, a cantar. No fim, diz: ‘Não guardes a saudade à vida/ que me ensinou a cantar’. Como se fôssemos reféns dessa vontade da vida.”

Outro é Não me chamem pelo nome: “Um fado lindíssimo, com um arranjo extraordinário do Ricardo Dias, do meu disco Garras dos Sentidos [1998]. A música é de José António Amaral e o poema é do António Botto, fadista da cabeça aos pés. E termina com esta coisa bem portuguesa: ‘Ai, amor, se houver ventura/ não me digas onde está’.” E há também Amália, que Mísia põe no topo: “No fim, há uma coisa para a qual não tenho palavras. É um poema de Amália, para mim o melhor que ela escreveu e nunca chegou a cantar: Vivendo sem mim. A música é do Mário Pacheco e foi gravado por mim no disco Ritual, de 2001.”

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Mísia por Anne-Sophie Tschiegg (o quadro integral)

Uma das canções que não podiam faltar é Unicórnio, também conhecido por Unicórnio azul, original do cantautor cubano Sílvio Rodriguez, adaptado para português por Luís Represas, a pedido de Mísia, e por ela recriado no álbum Tanto Menos Tanto Mais, de 1995. Mísia explica porquê: “É um dos temas que mais marcou as pessoas, naquela época. Todas as pessoas me falavam dele e, de certo modo, todos nós somos o unicórnio azul de alguém, porque somos especiais para uma pessoa.” No disco, é cantado na versão original, em castelhano, a fechar, e na versão portuguesa, a abrir: “Eu podia ter feito essa adaptação, porque sou filha de espanhola e falo correntemente o castelhano, mas quis pedi-la ao Luís Represas pela ligação que ele tinha a Cuba e achei bem que fosse ele a fazê-la. Foi o meu segundo videoclipe e teve a participação de um amigo meu, quase irmão, o Amir Hosseinpour, um grande encenador e coreógrafo que neste momento está a trabalhar com o Philip Glass e que trabalha com o Bob Wilson. No vídeo, ele faz de unicórnio.”

Este tema, diz Mísia, “é o melhor exemplo do que é este concerto”: “Uma coisa que só descobri há dias, durante uma entrevista: é que este concerto simboliza o reencontro com o público, depois de quase dois anos, e o reencontro com este tipo de músicas que estão dentro de mim, e por isso é que elas são as mais bonitas. Não é só a música nem a letra, mas o que elas significam na minha vida e na vida das pessoas as ouviram.”

A par de fados e outras canções, haverá também no CCB temas de outros autores: “Tenho o Oblivion, de Piazzola, o Que he sacado com quererte, da Violeta Parra, que já cantei num concerto-homenagem dedicado a ela [em Abril de 2017], e Ki Anamessa, um poema da Safo de Mitiléne, numa homenagem que vou fazer a uma amiga e grande cantora e compositora grega, que morreu recentemente, Angélique Ionatos (1954-2021).”

Vai ouvir-se também, neste concerto no CCB, o inédito Vou pedir-te um coração, que Mísia estreou no Museu do Fado, no concerto Amália Quem te Deu a Sina Que Tua Já Era..., no dia 28 de Maio de 2021, ainda com público limitado devido às questões de segurança impostas pela pandemia da covid-19. “Também vou cantá-lo no CCB. É um poema que ainda não está gravado, um inédito do Tiago Torres da Silva, que é cantado na música do Fado Perseguição, um fado tradicional. Faz parte não só deste concerto, mas também de um novo trabalho que estou a preparar para o início do próximo ano”.

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