Ministério garante que já colocou 3300 professores para reforçar recuperação de aprendizagens

Presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas defende concurso extraordinário para a contratação de professores.

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Nuno Ferreira Santos

O Ministério da Educação garante que já foram colocados, na contratação inicial do ano lectivo, os 3300 professores que prometeu para crédito horário, tutorias, equipas multidisciplinares e educação inclusiva, no âmbito da recuperação das aprendizagens, depois dos impactos da pandemia nas escolas.

ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, tinha anunciado, no dia 1 de Junho, mais de 900 milhões de euros para alocar ao Plano de Recuperação de Aprendizagens. Nessa altura, garantiu que se manteria o reforço de 3300 professores destinados a apoiar os alunos com as aprendizagens prejudicadas por causa da pandemia de covid-19. Isto com “recomendações para incidência no 1.º ciclo (com especial atenção para o 3.º ano) e de transição de ciclo, e prorrogação do alargamento do apoio tutorial específico a mais alunos”.

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, diz que há problemas a outros níveis quanto à falta de docentes. “Em Lisboa e Vale do Tejo e no Algarve há escassez de professores nalgumas disciplinas. E isso prejudica não só a recuperação de aprendizagens.”

A dificuldade, reconhece aquele dirigente, é antiga. “É um problema que existe há anos e que se tem acentuado. Na nossa opinião, a solução seria abrir um concurso extraordinário para os professores contratados, que têm 10, 15, 20 anos de serviço, muito experientes, habilitados.”

Todos os anos, o drama repete-se: “Assinam contratos até 31 de Agosto. No dia 1 de Setembro, estão no desemprego. Dias depois, o sistema educativo torna a contratá-los. Têm uma vida muito instável. Este ano estão em Bragança, para o ano no Algarve. Era preciso dar-lhes estabilidade profissional. Pelo menos, trazê-los para os quadros.”

Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, lembra que “a maior parte dos professores disponíveis tem residência no Norte do país”. “Ao serem colocados na Grande Lisboa ou no Algarve têm de pagar 500 euros por um quarto, mais alimentação e transporte. Isso é incomportável para quem tem família e ganha 1200 euros.”

O problema, alerta, não é só o preço das rendas. É também o valor dos salários, que não sobem. Manuel Pereira recua ao início do século, ao tempo em que o país mudou de escudos para euros: “Um professor tinha um ordenado três ou quatro vezes superior ao salário mínimo. Agora, é duas vezes o salário mínimo nacional. Ninguém quer ser professor.”

É cada vez menor o número de jovens que entram no ensino superior com o sonho de se tornarem professores. E, nesta década, cerca de metade dos professores deverá alcançar a idade de se aposentar.

Filinto Lima também lança esse alerta. Parece-lhe urgente tomar medidas para que a via de ensino se torne mais aliciante, sob pena de o país voltar aos anos 80 e 90, quando tinha de recorrer a profissionais não habilitados. “É preciso valorizar, dignificar a carreira docente.”

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