Morreu Nelson Freire, um dos grandes pianistas do mundo

Intérprete brasileiro tinha 77 anos. Aos 24, a revista Time considerou-o “um dos maiores pianistas desta ou de qualquer geração”.

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Nelson Freire interpreta peça de Heitor Villa-Lobos no Royal Albert Hall, em Londres (2012) Amy T. Zielinski/Redferns / Getty Images

O pianista brasileiro Nelson Freire, por diversas vezes aclamado como um dos grandes nomes mundiais da música, morreu esta segunda-feira na sua casa do Rio de Janeiro, aos 77 anos. A notícia foi confirmada pelo seu empresário e pela Orquestra Filarmónica de Minas Gerais, estado natal de Freire, mas não foram avançados detalhes sobre as circunstâncias da morte. Sabe-se que o artista tinha recentemente cancelado a sua participação no júri do Concurso Chopin de Varsóvia, e também que, em 2019, tinha sido submetido a uma operação a um ombro, após uma queda enquanto caminhava no Rio de Janeiro.

O seu regresso aos palcos estava previsto para o ano passado, mas o pianista foi forçado a adiar os planos, devido à pandemia de covid-19. Entre os cancelamentos verificados na agenda, encontrava-se a participação no Festival Internacional dos Açores, no passado mês de Setembro

No Twitter, a Fundação OSESP (da Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo), com quem o pianista actuou várias vezes, lamenta o seu desaparecimento, lembrando ter ele sido “reconhecido internacionalmente como um dos maiores génios da actualidade no campo das artes”, tornando-se “um orgulho da música e dos músicos brasileiros”.

Recital aos cinco anos

Nelson Freire, nascido a 18 de Outubro de 1944 na cidade Boa Esperança, em Minas Gerais, foi várias vezes considerado um dos grandes pianistas do mundo, em particular pela sua interpretação da música de Beethoven e de Chopin.

Foi um menino-prodígio do piano, instrumento que começou a praticar desde muito cedo e com o qual fez o primeiro recital com apenas cinco anos, recorda a CNN-Brasil. Aos 12 anos, conquistou o sétimo lugar no Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, tocando Beethoven – concurso que haveria de vencer mais tarde, na cidade onde se radicou e onde estudou com pianistas como Nise Obino e Lúcia Branco.

Saltou, depois, para os palcos europeus, onde, aos 19 anos, conquistou, em Lisboa, o primeiro lugar no Concurso Internacional Vianna da Motta (ex aequo com o russo Vladimir Krainev). Era também ainda jovem, de 24 anos, quando a revista Time, após a sua apresentação nos Estados Unidos, com a Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, o considerou “um dos maiores pianistas desta ou de qualquer geração”. Actuaria, a seguir, com outras grandes orquestras, como as Filarmónicas de Berlim e de São Petersburgo ou a Sinfónica de Londres.

Em Portugal, actuou também diversas vezes desde os anos 60, a última das quais, em 2019, na 54.ª edição do Festival de Sintra, com a Orquestra Gulbenkian.

Em 1999, a Philips Records incluiu-o na colectânea Great Pianistas of the 20th Century. Seria na sequência desta distinção, e depois de durante anos se ter recusado a gravar as suas performances, que Nelson Freire começou, na viragem do século, a gravar e lançar discos, nomeadamente dedicados à obra de Debussy, Liszt e Chopin – com a obra deste último, foi distinguido com o prémio Diapason d’Or da revista francesa Monde de la Musique. Realizou também várias gravações com a pianista argentina Martha Argerich, com quem manteve também uma forte amizade pessoal.

Além do reconhecimento por via dos discos e das actuações em palco, Nelson Freire viu-se agraciado com comendas e distinções, tanto no seu como noutros países, nomeadamente com o grau de Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, Cavaleiro da Legião de Honra e Comandante de Artes e Letras em França, medalhas das cidades de Paris e de Buenos Aires, além do título de doutor honoris causa da Faculdade de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Com a morte de Nelson Freire, “o mundo perde um dos seus grandes pianistas, o Brasil, um dos seus maiores brasileiros”, lamentou agora Fabio Mechetti, maestro e director artístico da Filarmónica de Minas Gerais, citado pela CNN-Brasil. Com Lusa

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