Morreu o bispo Basílio do Nascimento, “um dos principais rostos da independência de Timor-Leste”

Aos 71 anos, o bispo de Baucau era muito respeitado pelos timorenses. Antes e depois da independência, esteve “sempre ao lado do povo e na defesa da liberdade e democracia.

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Basílio do Nascimento tornou-se uma das vozes mais mediáticas do período antes do referendo de 1999 Paulo Cunha/Lusa

O bispo de Baucau, a segunda maior cidade de Timor-Leste, Basílio do Nascimento, morreu este sábado no Hospital Nacional Guido Valadares, em Díli, depois de ter sofrido um ataque cardíaco na cidade de Maliana, a Sudoeste da capital. “Teve um papel preponderante no referendo sobre a independência do território, em 1999”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro português, António Costa, lembrando que esteve “sempre ao lado do povo e na defesa da liberdade e democracia em Timor-Leste”.

Basílio do Nascimento, natural do Suai, com 71 anos, tornou-se uma das vozes mais reconhecidas do período anterior ao referendo de 1999, com os jornalistas, principalmente portugueses, a procurarem com frequência os seus comentários. Mas tal como analisava a situação de forma crítica e aberta antes da independência, continuou a apontar o dedo à missão das Nações Unidas em Timor ou aos políticos do país, sempre que considerava que isso se justificava, denunciando o descuido no ensino do português ou a existência de fome entre os timorenses.

“Foi com profunda tristeza e consternação que recebi a notícia do falecimento de D. Basílio do Nascimento, Bispo de Baucau. Foi um dos principais rostos da independência de Timor-Leste, assim como da luta pela liberdade e pela democracia no país, valores e conquistas pelas quais nunca deixou de se bater”, lê-se na mensagem do presidente do Parlamento português, Eduardo Ferro Rodrigues. No mesmo tom, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lembrou uma “figura marcante da luta pela independência de Timor-Leste”.

“Consagramos os nossos pensamentos e orações nestes tempos difíceis e de sofrimento e expressamos as nossas mais sentidas condolências a toda a família do estimado D. Basílio do Nascimento, a todos os católicos e a todo o Povo timorense”, reagiu em Díli o porta-voz do Governo timorense, Fidelis Manuel Leite Magalhães, ao mesmo tempo que os timorenses enchiam as redes sociais de imagens do bispo.

Vários jornalistas portugueses que ao longo dos anos acompanharam Timor-Leste não deixaram de reagir a esta morte, lembrando as suas experiências com Basílio do Nascimento. “Morreu o timorense que mais admirei. Pela inteligência, pela sensatez, pela coragem, pelo desprendimento”, escreve na sua página de Facebook o jornalista Ricardo Alexandre, director-adjunto da TSF.

Pedro Mesquita, jornalista da Rádio Renascença, lembra um homem “afável, inconformado e firme”, com “um discurso simples, directo, ponderado, e muito firme”, que “rapidamente conquistou o coração e o respeito dos timorenses”. Num texto publicado no site da Renascença, Pedro Mesquita recorda como Basílio do Nascimento “punha em sentido tanto as autoridades indonésias como os líderes integristas locais”.

Ordenado sacerdote em 1977, Basílio do Nascimento viveu em Paris até 1982, viajando nesse ano para Évora, onde foi pároco de várias localidades. Em 1994, regressou à sua diocese original, Díli, e dois anos depois foi nomeado Administrador Apostólico de Baucau e Bispo de Septimunicia, passando a ser bispo titular da diocese, a segunda do país, em Março de 2004. Em 2011, tornava-se o primeiro presidente da Conferência Episcopal Timorense, quando o então arcebispo Leopoldo Girelli, núncio apostólico de Timor-Leste, entregou aos bispos timorenses o decreto da Congregação para a Evangelização dos Povos.

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