EUA foram “desajeitados” no negócio dos submarinos australianos, admite Biden a Macron

Biden reconheceu que o acordo com a Austrália e o Reino Unido não foi feito com “muita elegância” e sublinhou a importância da aliança com França. Macron gostou, mas quer acção: “A confiança é como o amor: declarações são boas, mas provas são melhores.”

Foto
Biden encontrou-se com Macron em Roma, durante a cimeira do G20 Reuters/KEVIN LAMARQUE

O Presidente dos EUA, Joe Biden, reconheceu esta sexta-feira que os norte-americanos foram “desajeitados” na forma como engendraram o acordo militar com a Austrália e o Reino Unido (AUKUS), que prejudicou os interesses franceses.

Em Roma, durante a cimeira do G20, e no primeiro encontro desde a crise diplomática com o homólogo francês, Emmanuel Macron, Biden admitiu que o país não deveria ter permitido que a diplomacia de Paris fosse apanhada de surpresa pela venda de submarinos nucleares à Austrália. O contrato levou Camberra a rasgar um outro acordo com uma empresa francesa avaliado em 31 mil milhões de euros.

“Acho que o que aconteceu, para usar uma expressão em inglês, é que o que fizemos foi desajeitado. Não foi feito com muita elegância”, reconheceu Biden. “Fiquei com a impressão de que certas coisas tinham acontecido, e afinal não”, admitiu o Presidente norte-americano, sublinhando que França é um parceiro “extremamente valioso” e “uma potência em si mesma”.

Emmanuel Macron disse que a reunião com Biden foi “importante” e que é essencial “olhar para o futuro”, enquanto França e os Estados Unidos trabalham por sarar as relações. Os dois líderes mostraram-se calorosos, com múltiplos apertos de mão e toques nas costas no início da reunião, ainda na presença de jornalistas.

“O que realmente importa agora é o que vamos fazer juntos nas próximas semanas, meses, anos”, disse Macron. Depois da reunião, o líder francês destacou que a conversa tinha sido útil e realçou o empenho “forte” dos Estados Unidos relativamente à defesa europeia, mas quer ver acção que comprove as palavras.

“A confiança é como o amor: declarações são boas, mas provas são melhores”, referiu.

Desde o azedar das relações, Washington tem feito por reconciliar-se com o seu aliado mais antigo. A reunião, realizada em Villa Bonaparte, a embaixada francesa no Vaticano, foi mais um marco. Segundo declarações de um diplomata francês à Reuters, o local o encontro foi um sinal de boa vontade de Biden.

“É um gesto importante”, referiu, acrescentando que os Estados Unidos reconhecem que subestimaram o impacto das suas acções. “A confiança está a ser reconstruída. Este é um passo. Foram lançadas fichas de boa vontade. Vamos ver se se mantém assim a longo prazo”.

Aquando do anúncio da parceria com o Reino Unido e a Austrália, os Estados Unidos argumentaram que a medida, que irá reforçar os sistemas de defesa do aliado do Pacífico com navios movidos a energia nuclear, permitirá que os australianos contenham a expansão chinesa na região.

Mas Paris argumentou que Washington os enganou sobre as negociações com a Austrália, catalogando o AUKUS como uma “facada nas costas”, e comparou a actuação dos três países com a forma de fazer política do ex-Presidente dos EUA Donald Trump. Para além da construção dos novos submarinos, o acordo era visto pelo Governo francês como essencial para a sua estratégia para a região do Indo-Pacífico, onde França tem territórios com dois milhões de habitantes e sete mil soldados destacados, com a aliança Paris-Camberra no centro.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários