Contagem decrescente para a COP26 - é hora de agir

É essencial que cumpramos a promessa do Acordo de Paris e reduzamos as emissões para limitar o aumento da temperatura a 1,5 ° C, em relação aos níveis pré-industriais. Mas não estamos no caminho certo.

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é um aviso urgente: temos de agir já. Para Portugal, localizado num dos hot spots das alterações climáticas - a região do Mediterrâneo -, as mudanças climáticas vão significar o aumento das temperaturas e das ondas de calor, períodos de seca prolongados, chuvas menos frequentes mas mais intensas, e uma costa ameaçada pela subida do nível do mar. Fenómenos que, em certa medida, são já visíveis.

Mitigação

A COP26 - a conferência do clima mais importante desde Paris - está prestes a começar. É essencial que cumpramos a promessa do Acordo de Paris e reduzamos as emissões para limitar o aumento da temperatura a 1,5 ° C, em relação aos níveis pré-industriais. Mas não estamos no caminho certo: precisamos que todos os países adotem metas mais ambiciosas de redução das suas emissões. Se os países se limitarem a cumprir as suas metas oficiais - as Contribuições Nacionalmente Determinadas – teremos um aumento catastrófico de 2,7 ° C na temperatura global. Isto significará uma subida do nível do mar, secas mais prolongadas, e ondas de calor e tempestades em todo o mundo. Atualmente, Portugal testemunha já uma redução da precipitação média anual e secas severas – as quais afetam a disponibilidade de recursos hídricos, alteram a frequência dos incêndios florestais e exigirão, por exemplo, mudanças na agricultura. As evidências são claras: precisamos de mais ambição, agora.

É por isso que a Dinamarca se comprometeu a reduzir as suas emissões em 70% até 2030. Acreditamos que isto não só é necessário como é perfeitamente possível. Instamos todos os países - especialmente os grandes emissores - a submeter as suas Contribuições Nacionalmente Determinadas revistas antes da COP26, e a certificarem-se de que estas são compatíveis com o cenário de 1,5 ° C do Acordo de Paris.

Financiamento

Na COP15 em Copenhaga, em 2009, os países desenvolvidos prometeram aos países em desenvolvimento 100 mil milhões de dólares por ano em financiamento climático. Devemos honrar essa promessa. Os países desenvolvidos têm a responsabilidade de aumentar os seus compromissos individuais para que possamos coletivamente entregar a quantia prometida. Dados recentes da OCDE indicam que, claramente, ainda não chegámos àquele objetivo.

A Dinamarca está pronta para dar a sua justa parte. Em 2023 estaremos a dar anualmente pelo menos 500 milhões de dólares em subvenções para financiamento climático. Estamos também a envidar esforços para mobilizar financiamento público e privado de outras fontes. Combinando o financiamento em subvenções e o financiamento mobilizado, atingiremos 1% da meta coletiva de 100 mil milhões de dólares. Este valor vai muito além da parcela proporcional correspondente à Dinamarca e esperamos que este passo encoraje outros a seguirem-nos. Cumprir a nossa promessa de Copenhaga é essencial para construir confiança e garantir as circunstâncias ideais para uma COP26 bem-sucedida.

Adaptação

A mudança climática é global, mas os seus impactos são desproporcionalmente distribuídos. O recente relatório do IPCC recorda-nos de forma dramática o desafio que a humanidade enfrenta. Mesmo com um aquecimento global de 1,5 ° C, há necessidade de adaptação aos impactos inevitáveis: construir casas e infraestruturas que possam sobreviver a eventos extremos, plantar novas culturas que suportem o calor, melhorar a previsão de tempestades e inundações. Os impactos afetam toda a gente no mundo inteiro, mas os países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento são os mais atingidos. Para estes, a adaptação às mudanças climáticas não é uma escolha - é uma necessidade.

A adaptação continua a ser a metade negligenciada da equação climática, representando hoje apenas 25% do financiamento climático para os países em desenvolvimento. Pior ainda, a adaptação representa apenas 0,1% do financiamento privado canalizado para medidas climáticas. É por isto que a Dinamarca se comprometeu a gastar 60% das suas subvenções para financiamento climático na adaptação, a partir de 2022. Pedimos abertamente a outros países desenvolvidos que deem um passo em frente e se juntem a nós.

As parcerias são essenciais para apoiar a adaptação climática de forma eficiente. Precisamos de partilhar experiências e procurar novos caminhos para seguir em frente. A Dinamarca está na expectativa de trabalhar em estreita colaboração com Portugal nesta importante questão.

Eliminação gradual dos combustíveis fósseis

Alcançar as metas do Acordo de Paris requer rápidas reduções na produção de carvão, petróleo e gás natural. Apesar disso, há pelo mundo vários governos que planeiam aumentar a produção de combustíveis fósseis a um ritmo médio de 2% ao ano. A Dinamarca, juntamente com a Costa Rica, lidera a Beyond Oil and Gas Alliance (BOGA – “Aliança para Além do Petróleo e do Gás”) para promover e apoiar a eliminação justa e equitativa da produção de petróleo e gás. Estamos também a pressionar o fim definitivo da construção de novas centrais de carvão e da exportação de tecnologia de carvão, dado que esta é uma das medidas mais eficazes para limitar o aumento da temperatura.

O tempo é escasso. O fracasso é uma possibilidade, mas a qual não podemos aceitar. É essencial que os países se unam para reconstruir a confiança e restaurar o espírito de Paris. A Dinamarca fará o seu melhor para intensificar a ação e aumentar as ambições, para que possamos transmitir um mundo próspero, justo e sustentável às próximas gerações. Contamos com Portugal - um dos primeiros países do mundo a definir como meta a neutralidade carbónica até 2050 - no combate às alterações climáticas.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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