Oposição húngara lidera sondagens a seis meses das eleições

Pela primeira vez, seis partidos da oposição ao Fidesz vão concorrer unidos para tentar tirar Orbán do poder.

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A oposição liderada por Péter Márki-Zay ganha vantagem nas sondagens MARTON MONUS/Reuters

A oposição húngara lidera as intenções de voto para as eleições legislativas de Abril, de acordo com uma sondagem publicada na quarta-feira à noite. A vantagem dá um impulso significativo à candidatura do autarca Péter Márki-Zay, que tem a missão de afastar Viktor Orbán do poder ao fim de mais de uma década.

A sondagem, citada pelo Guardian, mostra que o apoio à coligação oposicionista está nos 39%, enquanto os ultranacionalistas do Fidesz têm 35%, havendo ainda 23% de indecisos. Até agora, a generalidade das sondagens mais recentes indicava um empate técnico.

A cerca de seis meses das eleições legislativas, a vantagem da oposição ao Fidesz reforça a ideia de que Orbán nunca viu o seu poder tão ameaçado desde que chegou à chefia do Governo, em 2010. Pela primeira vez, a oposição uniu-se em torno de uma candidatura única, superando divergências históricas, barreiras ideológicas e disputas pessoais, com o simples objectivo de tirar o Fidesz do poder.

Para isso, os seis partidos que compõem a coligação – que integra socialistas, liberais, conservadores, ecologistas e até o Jobbik, que se afastou da matriz de extrema-direita – organizaram eleições primárias para escolher não só o seu candidato a primeiro-ministro como os candidatos para os mais de cem círculos eleitorais, que se vão bater directamente com os nomes apresentados pelo Fidesz. Essa foi a solução encontrada pelos dirigentes da oposição para vencer os inúmeros obstáculos que têm permitido aos ultraconservadores renovarem as maiorias parlamentares de forma sucessiva.

Este mês, as primárias deram a vitória a Péter Márki-Zay, o presidente de câmara de uma pequena cidade que muitos vêem como a resposta ideal para derrotar Orbán. Márki-Zay tem apostado num forte discurso anticorrupção, denunciando o aparelhamento do Estado pelo Fidesz e as relações ambíguas entre o Governo e um grupo exclusivo de empresários.

Para além disso, como independente, Márki-Zay está livre da associação com os partidos tradicionais, muito pouco populares aos olhos da generalidade dos húngaros. O seu perfil de político conservador moderado, católico praticante, assegura-lhe que pode almejar conquistar algum eleitorado tradicional do Fidesz que esteja desiludido com o Governo.

“Ele é honesto e isso é algo de que temos sentido falta há muito tempo na política húngara”, disse, citado pelo Guardian, Robert Molnar, outro autarca aliado de Márki-Zay.

Nesta fase inicial, a estratégia de contra-ataque do Fidesz tem privilegiado a associação de Márki-Zay à esquerda, acusando-o de ser uma marioneta nas mãos dos partidos tradicionais. “Há apenas uma esquerda, independentemente das muitas formas como se disfarçam”, declarou Orbán, num discurso no fim-de-semana passado em que se assinalava o aniversário da tentativa de levantamento na Hungria em 1956 contra o regime comunista.

Os próximos meses prometem uma luta entre uma oposição que terá de mostrar ter vencido o cepticismo dos que duvidam da coesão entre forças políticas tão diferentes entre si, e um partido governamental que joga tudo para não abdicar de um poder que lhe permitiu moldar o Estado de uma forma inédita.

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