Projecto nacional quer produzir “mini-cérebros” para triagem mais eficaz de fármacos

O projecto MindMimics surge como uma alternativa à triagem de fármacos e ao estudo de doenças do desenvolvimento neuronal.

Foto
Equipa considera que a produção dos organóides cerebrais se pode tornar “promissora” Daniel Rocha

Um projecto desenvolvido por três investigadoras portuguesas pretende produzir “mini-cérebros” a partir de células estaminais para diminuir os testes em animais e fazer uma “triagem mais eficaz” dos medicamentos em fases precoces de ensaios.

O projecto MindMimics, distinguido com o terceiro prémio do Amyris Innovation BIG Impact Award, um concurso de inovação em biotecnologia organizado pela Universidade Católica Portuguesa, surge como uma alternativa à triagem de fármacos e ao estudo de doenças do desenvolvimento neuronal. À agência Lusa, Laura Frazão, uma das três fundadoras do projecto e investigadora do Grupo de Investigação 3B's da Universidade do Minho, esclareceu esta quarta-feira que o MindMimics visa “tornar a tecnologia dos organóides cerebrais (mini-cérebros” criados em laboratório) acessíveis”.

A produção dos organóides cerebrais permitirá “diminuir os testes em animais, fazer uma triagem mais eficaz dos medicamentos em fases mais precoces de ensaios clínicos, criar alternativas para a medicina personalizada e também desenvolver novos medicamentos para doenças neurológicas”. “Cerca de 90% dos novos medicamentos falham durante os ensaios clínicos, sendo que um dos factores é a utilização de modelos “in vivo/in vitro” inadequados”, observou a investigadora.

Ao recapitularem o desenvolvimento do cérebro humano em laboratório, os organóides cerebrais são “um modelo in vitro” mais complexo capaz de dar respostas mais confiáveis a respeito do efeito de medicamentos”, isto é, ao não passar num ensaio que recorre a organóides, um determinado fármaco “não avança nas etapas de desenvolvimento”. “Poupamos tempo, recursos e dinheiro”, salientou Laura Frazão, acrescentando que com a produção destes “mini-cérebros”, tanto centros de investigação, como empresas farmacêuticas podem passar a “terceirizar parte da sua actividade” e focarem-se no “essencial: a inovação.

Laura Frazão afirmou ainda que a produção dos organóides cerebrais se pode tornar “promissora”, uma vez que, “até agora o neurodesenvolvimento humano estava quase inacessível”, ao depender de “abortos ou malformações de fetos”. “Com os organóides cerebrais podemos estudar várias fases do neurodesenvolvimento humano, perceber os mecanismos de doenças de neurodesenvolvimento, como a esquizofrenia e outros transtornos, e, eventualmente, identificar alvos para novos tratamentos”, disse.

Segundo Laura Frazão, o objectivo da equipa do MindMimics é agora fazer o levantamento de uma ronda de investimento inicial, prevendo-se que, nos primeiros meses de 2022, a “empresa possa estar operacional” e a actividade empresarial se inicie. “Em termos de produção contamos com pessoal altamente qualificado e especializado, assim como os recursos e equipamentos necessários. Na MindMimics iremos também oferecer o serviço, em que testaremos os produtos dos nossos clientes nos nossos organóides cerebrais”, acrescentou.

O projeto MindMimics foi distinguido com o 3.º prémio do Amyris Innovation BIG Impact Award, um concurso de inovação em biotecnologia organizado pela Associação de Antigos Alunos da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (ESB-UCP), no Porto, em parceria com a ESB e a Amyris Bio Products Portugal. Nesta que foi a 1.ª edição, foram avaliadas mais de 40 candidaturas a nível nacional e internacional, sendo que o projecto liderado por Laura Frazão recebeu um prémio no valor de mil euros.

Sugerir correcção
Comentar