Facebook vai continuar a “alimentar inquietação” em todo o mundo, diz denunciante

Frances Haugen, ouvida no Parlamento britânico, disse que o Facebook encara a segurança online como um custo e que é necessário que impeça os algoritmos de promover conteúdos extremistas e divisores.

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Reuters/HENRY NICHOLLS

O Facebook vai continuar a alimentar “inquietações violentas” em todo o mundo, se não impedir os seus algoritmos de promover conteúdos extremistas e fracturantes, disse, na tarde desta segunda-feira, perante o Parlamento britânico, a denunciante Frances Haugen.

A ex-funcionária, que acusou a plataforma de colocar os lucros antes das pessoas, em depoimento que prestou perante uma subcomissão do Senado dos Estados Unidos da América no início deste mês, disse que se sentiu encorajada pelos planos do Reino Unido de forçar as grandes empresas de tecnologia a combater os conteúdos prejudiciais nas plataformas.

O Facebook, disse Haugen, encara a segurança online como um custo e promoveu uma cultura de startup em que cortar a direito [cutting corners, no original em inglês] é um ponto positivo. “Inquestionavelmente, está a agravar a propagação do ódio”, disse Haugen.

Como estava muito focada nos Estados Unidos, a empresa fechou deliberadamente os olhos aos impactos que tinha em muitos mercados externos. A falta de conhecimento desses locais dificultou a compreensão da natureza tóxica ou perigosa das mensagens que circulavam na plataforma, argumentou ainda a ex-funcionária.

A maior rede social do mundo rejeitou estas acusações e Mark Zuckerberg disse, já no início deste mês, que era “profundamente ilógico” argumentar que o Facebook difundiu deliberadamente conteúdo que deixou as pessoas com raiva.

“Ao contrário do que foi discutido na audiência, sempre tivemos incentivos comerciais para remover conteúdos nocivos dos nossos sites. As pessoas não os querem ver quando usam as nossas aplicações e os anunciantes não os querem ao lado dos seus anúncios”, disse o Facebook num comunicado divulgado esta segunda-feira.

A empresa disse ainda que gastou 13 mil milhões de euros para manter os utilizadores seguros e concordou que é necessária uma regulamentação para toda a indústria, acrescentando que está satisfeita com o facto de o Reino Unido estar a avançar com leis relacionadas com a segurança online. Segundo estas leis, as empresas de redes sociais podem ser multadas até 10% dos seus lucros se não removerem ou limitarem a disseminação de conteúdo ilegal.

O Facebook, que também é dono do Instagram e do WhatsApp, foi acusado por legisladores dos EUA de perseguir grandes lucros, ao mesmo tempo que é “arrogante” quanto à segurança do utilizador.

“Os eventos a que estamos a assistir em redor do mundo, na Birmânia ou na Etiópia, são os capítulos iniciais porque a classificação de conteúdos baseada no envolvimento do público faz duas coisas: primeiro, prioriza e amplifica o conteúdo extremista que divide e polariza e, segundo, concentra-o”, referiu a denunciante.

Em Outubro, Haugen disse a uma audiência do Subcomité de Comércio do Senado que o Facebook tinha inventado formas de manter os utilizadores a navegar na aplicação, mesmo quando isso era prejudicial para o seu bem-estar.

O Facebook opera em mais de 190 países e possui mais de 2,8 mil milhões de utilizadores mensais.

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