Sudão: Guterres insurge-se contra “epidemia de golpes de Estado”

Secretário-geral da ONU apela aos membros do Conselho de Segurança para procurarem posições de unidade, permitindo assim que a organização funcione como elemento “dissuasor” para o derrube de governos.

Foto
Existe “um ambiente em que alguns líderes militares sentem que têm impunidade total", disse Guterres SUSANA VERA/Reuters

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, atacou esta terça-feira o que descreve como “uma epidemia de golpes de Estado”, pedindo ao Conselho de Segurança que aja de forma decisiva para os dissuadir. “O povo sudanês mostrou muito claramente o seu desejo intenso de reformas e democracia”, afirmou Guterres ao condenar uma vez mais a tomada do poder pelo Exército sudanês, quando o Conselho de Segurança se preparava para debater a situação em Cartum, num encontro à porta fechada.

Este foi o mais recente golpe militar no mundo, depois do derrube dos governos da Birmânia, Mali e Guiné-Conacri, a somar a várias tentativas de golpe noutros países. De acordo com a revista The Economist, houve mais golpes em 2021 do que nos cinco anos anteriores.

O Conselho de Segurança, que tem a capacidade para impor sanções ou autorizar acções militares, tem estado dividido sobre como abordar vários conflitos, com os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais (França e Reino Unido) em confronto com as posições da Rússia e da China.

O ex-primeiro-ministro português apontou precisamente para as fortes divisões geopolíticas que criam “dificuldades em tomar medidas fortes” por parte do principal órgão decisor da ONU. Segundo Guterres, este impasse, somando ao impacto económico da pandemia de covid-19, tem contribuído para criar “um ambiente em que alguns líderes militares sentem que têm impunidade total, que podem fazer o que quiserem porque não lhes vai acontecer nada”.

“O meu apelo, obviamente, é especialmente para as grandes potências se unirem no Conselho de Segurança e garantirem que há uma dissuasão efectiva em relação a esta epidemia de golpes de Estado”, afirmou Guterres. “Vimos hoje que não existe uma dissuasão eficaz.”

Sugerir correcção
Ler 3 comentários