Clima: o voto dos mais jovens iria para as energias limpas e protecção das florestas

Publicado nas vésperas da COP26, o inquérito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento perguntou aos jovens menores de 18 anos que políticas climáticas apoiam. Mais de 70% dos jovens nos países mais poluidores dizem estarmos em emergência climática. O apoio a medidas ousadas pelo clima só irá continuar a crescer.

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paulo pimenta

Os residentes mais jovens dos países mais poderosos e poluentes do mundo (G20) acreditam que as alterações climáticas são uma emergência global e que é urgente proteger as florestas e investir em energias renováveis, veículos eléctricos e bicicletas.

Mais de 70% dos adolescentes entre os 14 e os 17 anos que responderam ao inquérito das Nações Unidas, feito através de pop-ups em jogos de telemóvel muito populares, disseram que a crise climática é uma emergência global, percentagem que baixa para os 65% nos adultos. Os países onde os menores de 18 anos apoiaram mais esta visão, em relação aos cidadãos adultos, foram a Austrália, os EUA e a Índia. No Reino Unido e em Itália, por exemplo, 86% dos menores de 18 anos (e 80% dos adultos) acreditam que vivemos uma emergência, o que poderá indicar um crescente apoio público a medidas mais imediatas e intervencionistas pelo clima, ainda maior quando estes jovens puderem votar. 

“À medida que esta geração chega à idade de votar, os líderes políticos não devem ignorar as expectativas mais ousadas deste eleitorado emergente”, escreve Stephen Fisher, o investigador principal do estudo, feito em parceira com a Universidade de Oxford, no Reino Unido. 

Cerca de 300 mil adolescentes entre os 14 e os 17 anos fizeram-se ouvir no Voto dos Cidadãos sobre o Clima, a sondagem da ONU que ouviu quase 700 mil residentes dos países altamente poluentes no Grupo dos 20, entre Outubro de 2020 e Junho de 2021. A União Europeia e a China ficaram de fora do inquérito a 18 países que surgiu em jogos como Subway Surfers, Temple Run ou Palavras Cruzadas. A sondagem poderá ser um ponteiro do rumo que a opinião pública está a tomar em relação à acção pelo clima.

Em média, segundo o inquérito, os adultos são mais apologistas de fazer as empresas pagar por poluírem, através de taxas de carbono, por exemplo, e defendem mais a construção de infra-estruturas para proteger vidas; enquanto os mais jovens querem seguros mais acessíveis e tecnologias agrícolas mais amigas do clima.

“Um seguro bom e acessível é considerado pelos especialistas como essencial para proteger as pessoas dos danos a bens e infra-estruturas provocados pelo aumento de eventos climáticos extremos, em particular inundações, que estão a tornar-se mais intensos e frequentes em muitos países, incluindo nos países do G20”, nota o relatório.

Os resultados podem indicar “que os adultos estão mais a favor de usar instrumentos económicos, como os impostos, para ajudar a reduzir as emissões”, avalia o inquérito, mas também podem apontar “para onde são necessários mais esforços para educar o público”. Na Indonésia, Japão e Arábia Saudita, nem um terço dos menores de 18 anos disseram que os poluidores deveriam pagar por contribuírem para o aquecimento global. 

Os adolescentes na Austrália (73%), Reino Unido (71%), Alemanha (68%) e América do Norte (68%) são os que mais defendem um maior investimento nos negócios e empregos verdes.

As diferenças entre idades, no entanto, não ultrapassam os 5 pontos percentuais em nenhuma das 14 políticas pelo clima sondadas — e nem sempre os mais jovens apoiam mais a acção climática do que os mais velhos. O relatório nota que o “mais profundo motor sociodemográfico da convicção na emergência climática é a formação académica de uma pessoa”, e não a sua idade.

O estudo foi apresentado meses depois de um outro inquérito a 1,2 milhões de pessoas em 50 países, feito pelos mesmos autores e com metodologia semelhante, mostrar que a pandemia da covid-19 não fez com que as pessoas minimizassem este problema, continuando a considerá-lo uma emergência global.

IPCC mostrou que para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais seria preciso um esforço nunca antes visto — um corte das emissões globais de CO2 de 45%, antes de 2030, para atingir a neutralidade carbónica em 2050. É esperado que as economias mais poluentes, e também mais robustas, avancem com a redução mais rápida e profundamente do que as economias menos poluentes e com menor capacidade de adaptação. Os países membros do G20, onde está concentrada 60% da população, são responsáveis por cerca de 75% de todas as emissões de gases com efeito de estufa. Em resumo, as acções dos governos destes países serão críticas para o futuro do planeta.

Este relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, feito em parceria com a Universidade de Oxford, foi lançado uma semana antes do encontro do G20 em​ Roma, nas vésperas da 26.ª Conferência das Partes (COP26) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. 

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