Há países dentro do meu país

Este amor ao Alentejo, este amor ao interior, vem com um preço. E esse preço, às vezes, é demasiado alto. Quase tão alto como o preço dos combustíveis que me tem obrigado a repensar muitas escolhas. Sabem que preço é esse? O preço de ter de aguentar, a toda a hora, o julgamento e as decisões de quem acha que, para ver Portugal, só precisa de espreitar cá para baixo no miradouro do Castelo de São Jorge.

Foto
Cromeleque dos Almendres, Évora António Carrapato

Escrevo do campo. Não da paisagem plana a perder de vista que imaginamos sempre que pensamos no Alentejo, mas, ainda assim, do campo. E da minha janela posso não ver o mundo, mas vejo um relvado de futebol onde mais de 20 miúdos, equipados de verde e branco, treinam com o sonho de ser o próximo Cristiano Ronaldo. Mais atrás, dentro do eucaliptal que delimita a zona, há uma pecuária e depois uma vinha. Era o lugar onde costumava correr antes de a preguiça tomar conta de mim e me empurrar para uma vida estupidamente sedentária. E sei, porque este é o meu lugar no mundo, que se a vista me permitisse continuar o caminho, encontraria lá à frente um açude onde, aposto, há alguém a pescar neste exacto momento. E talvez, com sorte, ainda fosse possível ver algum miúdo que, na companhia do avô, tivesse passado a manhã a armar ratoeiras aos pássaros.

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