Há países dentro do meu país
Este amor ao Alentejo, este amor ao interior, vem com um preço. E esse preço, às vezes, é demasiado alto. Quase tão alto como o preço dos combustíveis que me tem obrigado a repensar muitas escolhas. Sabem que preço é esse? O preço de ter de aguentar, a toda a hora, o julgamento e as decisões de quem acha que, para ver Portugal, só precisa de espreitar cá para baixo no miradouro do Castelo de São Jorge.
Escrevo do campo. Não da paisagem plana a perder de vista que imaginamos sempre que pensamos no Alentejo, mas, ainda assim, do campo. E da minha janela posso não ver o mundo, mas vejo um relvado de futebol onde mais de 20 miúdos, equipados de verde e branco, treinam com o sonho de ser o próximo Cristiano Ronaldo. Mais atrás, dentro do eucaliptal que delimita a zona, há uma pecuária e depois uma vinha. Era o lugar onde costumava correr antes de a preguiça tomar conta de mim e me empurrar para uma vida estupidamente sedentária. E sei, porque este é o meu lugar no mundo, que se a vista me permitisse continuar o caminho, encontraria lá à frente um açude onde, aposto, há alguém a pescar neste exacto momento. E talvez, com sorte, ainda fosse possível ver algum miúdo que, na companhia do avô, tivesse passado a manhã a armar ratoeiras aos pássaros.
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