Silêncio, que se vai escutar a alma da água

De vez em quando é preciso suspender o caos. É o propósito desta obra do catalão Jaume Plensa que agora marca a paisagem do novo cais de Newport, em Nova Jérsia. É para ouvir e sentir a "Alma da Água".

REUTERS/Eduardo Munoz
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Sobranceira às águas do rio Hudson, emerge agora uma imponente cabeça de mulher com o dedo indicador em riste sobre os lábios. Tal como a pandemia silenciou o mundo de uma forma sem precedentes, Jaume Plensa quer que Nova Iorque, pelo menos de vez em quando, volte a suspender o caos a que lentamente regressa para escutar a Alma da Água, nome que o artista catalão deu à peça que ficará permanentemente em exposição no novo cais de Newport, em Nova Jérsia, aberto ao público esta quinta-feira.

“A água, quando se move, faz um som especial, muito especial”, afirma o artista, natural de Barcelona, à agência Reuters. A obra, a maior de Plensa até ao momento, cerca 23,8 metros de altura, é, por isso, um convite “para ficar em silêncio”, “para ouvir o barulho profundo da água a falar connosco”.

“A água é uma metáfora maravilhosa para a Humanidade”, diz Plensa à edição espanhola da Condé Nast Traveler. “Uma gota de água está bastante sozinha, como uma única pessoa, mas muitas gotas juntas podem criar um tsunami e formar enormes rios e oceanos. Quando as pessoas se reúnem para trocar ideias e criar uma comunidade, conseguem construir algo incrivelmente poderoso.”

Water's Soul, nome original, está instalada sobre o novo cais de Newport, de frente para o rio Hudson e para Lower Manhattan, na margem oposta. Atrás, surge o horizonte de prédios da orla marítima de Newport, em Nova Jérsia, zona em rápido desenvolvimento. Será difícil ouvir-se aqui silêncio, entre o zumbido dos motores no terminal ferroviário de Hoboken, não muito longe, o rugido dos helicópteros ou o som das crianças que brincam na marginal do rio.

Mas não é esse o silêncio que Jaume Plensa quer que se oiça. "É um silêncio poético, no sentido em que cada um de nós tem de encontrá-lo para estar consigo mesmo. Actualmente, há muito ruído. Não um ruído de som, mas dos media", diz à Condé Nast Traveler. "Chega a um momento em que não sabemos se dizemos o que pensamos ou se simplesmente repetimos as vozes dos outros."

A obra, criada a partir de um modelo real cuja imagem foi digitalizada, é feita de resina de poliéster, fibra de vidro e pó de mármore. É também “uma peça que homenageia muito a água” e é a partir dela, de barco sobre o rio Hudson, “que se pode desfrutar mais dela”, garante Plensa à Reuters.

O artista catalão, de 66 anos, tem obras um pouco por todo o mundo, tendo-se popularizado com esculturas de caras femininas brancas de grande formato. Uma delas, Julia, está patente na Plaza de Colón, em Madrid, até dia 20 de Dezembro de 2021.

EPA/JUSTIN LANE
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