Faculdade diz não haver “matéria que comprometa a integridade” do CV de Raquel Varela

Avaliação feita nas últimas semanas por dois elementos do Conselho Científico confirma algumas “imprecisões”. Instituto de História Contemporânea mantém-se “seguro da análise” que o levou a retirar o apoio à candidatura a concurso da FCT.

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Raquel Varela recusou falar com o PÚBLICO Pedro Cunha / PUBLICO

A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa considera que “não existe matéria que comprometa a integridade da componente bibliométrica” do Curriculum Vitae (CV) da investigadora Raquel Varela, anunciou esta quarta-feira em comunicado. A conclusão é retirada depois de uma avaliação feita por dois elementos do seu Conselho Científico na sequência da informação sobre os “erros” detectados no CV da historiadora, enviada à faculdade pelo Instituto de História Contemporânea (IHC). A direcção deste centro de investigação mantém-se “segura da análise” que fez.

Segundo o comunicado da faculdade, “do CV de Raquel Varela constam 82 artigos listados, dos quais 36 publicados entre 2016 e 2021 e 30 publicados em revistas indexadas na ISI Thompson, na Scopus e na CAPES Qualis A”.

Este era também o número de artigos indexados nestas três bases de dados a que chegava o IHC na sua avaliação ao CV de Raquel Varela. O centro de investigação, que pertence à FCSH, concluía, segundo informação divulgada no final do mês passado, que o número total de artigos publicados em revistas indexadas é “aproximadamente metade do que é referido” no currículo da investigadora. No resumo do CV que incluiu na candidatura ao concurso da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e que é um elemento de avaliação considerado no regulamento, a historiadora contabiliza 67 artigos publicados em revistas indexadas na ISI Thomson, Scopus e CAPES Qualis A.

O currículo público de Raquel Varela foi actualizado depois de Julho. Na introdução ao mesmo são agora contabilizados “70 artigos em revistas com arbitragem científica, na área da história, sociologia, educação, economia, serviço social e ciência política indexados no ISI Thompson, CAPES Qualis A, Scopus, entre outros”. Ou seja, passaram a ser discriminadas as áreas científicas da produção da historiadora e foi acrescentado um “entre outros”, após as três bases de dados de indexação que eram anteriormente elencadas.

Os elementos do Conselho Científico da FCSH acabam, portanto, por confirmar parte das conclusões do IHC, nomeadamente no que toca ao número de artigos indexados nas três bases de dados elencadas por Raquel Varela, que são 30, em lugar dos 67 apresentados no resumo do CV escrito pela própria investigadora.

Fonte da FCSH esclareceu entretanto que o currículo avaliado pelos dois elementos do Conselho Científico é aquele que Raquel Varela tinha submetido ao concurso da FCT em Fevereiro. Será o mesmo documento que foi avaliado pelo IHC em Setembro e onde foram detectados os “erros” que o PÚBLICO noticiou no mês passado.

Não são identificados todos os co-autores ou co-editores

De acordo com o comunicado divulgado esta quarta-feira, a faculdade conclui ainda que Raquel Varela “é autora ou editora de todas as publicações assinaladas”, embora nem sempre sejam “identificados todos os co-autores ou co-editores” desses artigos. Este era também um dos erros apontados pelo IHC na sua avaliação do CV da investigadora.

Além disso, “existem imprecisões relativamente a dois títulos, a duas datas e em algumas identificações de códigos de registo em publicações online”. A avaliação da FCSH verificou ainda “algumas redundâncias que resultam dos problemas conhecidos de sincronização automática entre as diversas plataformas utilizadas, que dão origem a duplicações de entradas”.

A conclusão final é de que “os alegados erros identificados pela direcção do IHC não comprometem a integridade da componente bibliométrica do CV em apreço”, explica a FCSH no comunicado.

A direcção do IHC “mantém” a decisão tomada. “Estamos seguros da análise que realizamos ao CV apresentado pela investigadora no concurso internacional em causa”, afirmam em resposta enviada por escrito.

Tal como tinha adiantado, no início do mês, a FCSH nomeou dois elementos do seu Conselho Científico – que nunca são identificados – para “proceder à avaliação” dos problemas detectados pelo IHC no currículo da historiadora Raquel Varela, e que levaram este centro de investigação a retirar-lhe o apoio numa candidatura a um concurso da FCT. Raquel Varela recusou falar com o PÚBLICO.

No comunicado desta quarta-feira, a FCSH refere-se ainda ao concurso da FCT, a 4.ª edição do Concurso para o Estímulo ao Emprego Científico (CEEC) Individual, recusando responsabilidades. A direcção da faculdade afirma que a “avaliação da candidatura de Raquel Varela” compete “unicamente ao júri especializado desse concurso, regra de qualquer processo concursal.”

Actualizado às 20h35: acrescenta os esclarecimentos entretanto feitos pela FCSH quanto à versão do CV que foi avaliada.

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