Olhar a floresta para além da árvore

O desenvolvimento de produtos de base florestal, substitutos de produtos fósseis finitos e pouco amigos do clima e do ambiente, permitirá a construção de um futuro mais sustentável.

Nunca como agora fomos tão desafiados a procurar novos modelos de desenvolvimento que permitam deixar às futuras gerações um planeta melhor. A emergência climática, a par do crescimento global da população e da expansão da classe média nas economias em desenvolvimento, com a consequente pressão sobre os recursos, estão hoje na esfera de discussão pública e incitam a Humanidade a encontrar soluções sustentáveis e justas.

Neste contexto, importa olhar para a floresta com uma abordagem holística e cientificamente esclarecida como uma das soluções de futuro.

Principal ocupação do solo no território nacional (36% da área), a floresta tem uma presença transversal nas nossas vidas. Para além de ser responsável por mais de 100 mil empregos diretos, 5% do PIB e 10% das exportações nacionais (papel, pasta de papel, tissue, cortiça, aglomerados, cartão, mobiliário, etc), a floresta portuguesa é fulcral para a coesão territorial e desenvolvimento do mundo rural, aliando a este pilar socioeconómico um inestimável valor ambiental. A floresta é de resto o principal sumidouro de CO2 de que o país dispõe, e que deve ser aumentado, dados os desafios de descarbonização que Portugal se propôs enfrentar.

Numa altura de crescente consciencialização para a sustentabilidade do Planeta, a floresta tem tudo para dar ao nosso país um lugar de relevo no processo de evolução de uma economia fóssil e linear para um novo modelo de bioeconomia circular desenvolvido em harmonia com a natureza. O desenvolvimento de produtos de base florestal, substitutos de produtos fósseis finitos e pouco amigos do clima e do ambiente, permitirá a construção de um futuro mais sustentável. Esta transformação centrada em produtos inovadores de base florestal será crucial para Portugal contribuir para os objetivos do Green Deal Europeu.

A partir da floresta, para além das aplicações tradicionais (madeira para construção e mobiliário, cortiça e produtos papeleiros), obtém-se já ou pode vir a obter-se no futuro próximo um vasto leque de bioprodutos, uma boa parte substitutivos da petroquímica para indústrias como a farmacêutica e alimentar.

Num país com recursos naturais escassos, a floresta de produção encontrou condições únicas de desenvolvimento, sendo a grande responsável pela duplicação da área florestal no último século. Estas florestas estão na base de verdadeiros clusters industriais nacionais, onde se insere a The Navigator Company, alicerçados em recursos naturais, renováveis e sustentáveis com um contributo único para o Valor Acrescentado Nacional, a criação de emprego e uma intensidade de internacionalização, I&D e inovação sem paralelo no tecido empresarial de Portugal.

A floresta e o uso dos seus produtos são elementos incontornáveis da nossa identidade enquanto país e estão na base de momentos de expansão cruciais da nossa História.

Agora, numa era de novos modelos de crescimento, de novas descobertas e oportunidades, ela continua disponível para dar um contributo decisivo. A sua valorização passa por uma partilha ativa de conhecimento, por uma intersecção do conhecimento científico com um debate factual, aberto e racional, do qual resultem bases comuns transversais para o desenvolvimento de políticas públicas de longo prazo, que visem não delapidar uma posição única do País nos mercados internacionais dos produtos florestais e compatibilizem visões de desenvolvimento sustentável.

Num propósito de desenvolvimento sustentado para Portugal é importante reconhecer as finalidades múltiplas dos mosaicos florestais e a fundamental dependência mútua na gestão de recursos entre floresta de produção e floresta de conservação, conciliando a produção sustentável de madeira e de outros produtos florestais com as funções, para as quais ambas concorrem, de proteção, lazer, fixação de CO2, combate à erosão, regularização do ciclo da água, preservação da biodiversidade, entre outros.

Dito de outra forma: compatibilizar todos os serviços dos ecossistemas favorecendo a valorização e a resiliência do território à escala de paisagem e contribuindo para um futuro mais próspero, mais inclusivo e, portanto, mais sustentável.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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