Cartas ao director

Que futuro para o mundo?

No plano democrático são evidentes os progressos no âmbito da vertente humana. Mas, os crimes ambientais e económicos, a fome, o tráfico de seres humanos para fins de exploração, a exclusão social (…) são situações que infelizmente estão longe do referido anteriormente. E isso, para muitos, evidencia infelizmente o paradigma permissivo para os mais fortes e o paradigma autoritário para os mais fracos. Um contexto político vergonhoso, humilhante e desumano que permitiu construir ao longo do tempo compartimentos estanques civilizacionais e geracionais. Porém, aqui chegados, é fundamental enfrentar jogos de interesses implícitos numa estratégia economicista desenfreada, sem respeito pela natureza e pessoas, e proporcionar uma vida mais positiva economicamente e saudável. Algo exequível desde que haja vontade política e judicial para punir os que corrompem as sociedades. E esse é um dos fatores determinantes para que os cidadãos possam tirar ilações sobre o rumo que os decisores políticos pretendem para o futuro do mundo.

Manuel Vargas, Aljustrel

Por um Estado social forte

Manuel Carvalho disse e bem: “Um Governo sustentado pela esquerda suspeitosa da riqueza criada pela iniciativa privada não pode ir além de um orçamento feito de cuidados paliativos.” (Público de 12.10.2021)

Infelizmente, quem nos governa ainda não se deu conta de que para termos um Estado social forte e sustentável, que é o que todos queremos, primeiro é preciso criar riqueza para o poder sustentar. O Estado não tem aptidão nem sabe criar riqueza, antes pelo contrário. Essa tarefa é da exclusiva responsabilidade da iniciativa privada. Só ela tem competência para a realizar. Ao Estado cabe criar as condições para que a iniciativa privada possa criar essa riqueza. 

Dou um exemplo. O Canadá é um país com uma protecção social fortíssima. E é também um país capitalista altamente socializado. Mais de 50% da massa trabalhadora é funcionalismo. Nos EUA essa percentagem é de 26%, quase metade da do Canadá. Isso só é possível porque no Canadá a iniciativa privada é acarinhada pelo Estado e a criação de riqueza é encorajada. 

Clamar por um Estado social forte sem se cuidar de implementar as medidas estruturantes que permitam e incentivem a criação de riqueza, que é o que se tem passado em Portugal nos últimos 20 anos, é a receita para termos um Estado social cada vez mais fraco.

Ronald Silleym, West Vancouver, Canadá

A longa mão da troika

No seu artigo de sábado passado, João Miguel Tavares pergunta-se, como qualquer cidadão se perguntará, como e porquê jorrou de súbito toda a ordem de exigências, zangas e resmungos na sociedade portuguesa. A pergunta é pertinente e a resposta de JMT é a que se podia esperar – nem vale a pena comentar, tudo lhe serve para o efeito. Há, no entanto, uma correcção indispensável a introduzir no seu discurso. É a propósito da afirmação de que, relativamente ao governo da troika – pois disso se tratou entre 2011 e 2014 –, “as reversões foram aplicadas” e “as reformas foram repostas”, citando-se a TAP como exemplo, essa TAP que se tornou pública antes que morresse na sequência da gestão privada que lhe foi aplicada. A verdade é que as reversões não foram feitas e as reformas não foram repostas, mantendo-se, em aspectos essenciais, o quadro depressivo que todos os indicadores de 2014 evidenciavam. O governo socialista tem, na verdade, essa culpa às costas: não foi, até agora, capaz de virar a página em muitos aspectos que são justo motivo de zanga dos portugueses.

António Monteiro Fernandes, Lisboa

Se não há passado não há futuro

Gosto de ler o Público por ser um jornal plural que abriga e publica opiniões que vão em sentido diverso. É disso exemplo a edição de sábado que na capa enfatiza que “Mudanças no IRS não desfazem enorme aumento da troika” e na última página João Miguel Tavares (JMT) afirma que se o país está em maus lençóis a culpa não poderá ser assacada a Passos Coelho porque já saiu há duas legislaturas. Duma penada ilibou todos os governantes que já saíram há mais de duas legislaturas.

Quer isto dizer que os governantes do passado nunca poderão ser responsabilizados pelo presente? Assim sendo, os do presente não poderão ser responsabilizados no futuro.

A propósito, ouvi hoje na rádio um responsável do setor dos transportes a afirmar que o consumo de combustíveis (467 mil toneladas em set. 2020) está distribuído, grosso modo, da seguinte forma: 80% para veículos privados, 16% para veículos de transporte de mercadorias e 4% para transporte de passageiros. Pergunto: JMT acha que os responsáveis pelo desmantelamento da via-férrea e que apostaram tudo no alcatrão, não têm nada a ver com isto?

José Teixeira, Lisboa

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