Os adolescentes precisam de ouvir falar sobre saúde e doença mental em família

Alguns problemas do foro mental são invisíveis aos olhos de muitas famílias que movem-se no dia-a-dia mergulhadas em acções rotineiras, restando poucos momentos para ouvir e para estar uns com os outros.

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@petercalheiros

A adolescência é um período caracterizado por mudanças biológicas e psicológicas onde a família e os amigos têm um papel preponderante no desenvolvimento e, em concreto, no suporte emocional do jovem. Desde cedo, e também nesta fase, a família deve procurar educar sobre a saúde e a doença mental abordando o tema abertamente em casa, sem preconceitos.

O período de confinamento deixou muitos jovens mais vulneráveis, sozinhos e distantes dos colegas, sendo que, para alguns, isso resultou na intensificação de sintomas preexistentes ou no aumento do risco para o surgimento de ansiedade, isolamento social, depressão, irritabilidade, problemas alimentares e dificuldades de relacionamento interpessoal.

Como a doença mental ainda representa uma vergonha para a sociedade e nem sempre é falada com naturalidade em família, os jovens que se encontram em sofrimento psicológico acabam por guardar para si as suas dificuldades e não recebem a ajuda necessária, aumentando o risco de agravamento da situação. Alguns problemas do foro mental são invisíveis aos olhos de muitas famílias que movem-se no dia-a-dia mergulhadas em acções rotineiras, restando poucos momentos para ouvir e para estar uns com os outros.

Na adolescência, a introspecção que caracteriza alguns jovens pode tornar difícil a abertura para falar, sobretudo com os pais, por receio do julgamento e de serem controlados posteriormente.

Abrir espaço para o diálogo em família e para quebrar tabus abordando os problemas e as vulnerabilidades de cada um é uma forma de deixar claro para as crianças e jovens que os seus familiares não o vão julgar, criticar ou ridicularizar e um passo essencial para que estes se sintam livres para procurar o apoio dos pais.

Termos utilizados em família e entre amigos, tais como: bipolar, tolo, “esquizo”, etc., têm de ser evitados em nome do respeito pelo outro e da ruptura do estigma associado às doenças mentais. É preciso que a saúde e a doença mental sejam faladas à mesa, na sala e no carro desmistificando as ideias e crenças erradas e às vezes infundadas. É preciso falar abertamente sobre as nossas fragilidades enquanto seres biopsicossociais, sujeitos a problemas diversos que podem surgir devido a uma combinação de factores do foro genético, ambiental, biológico e psicológico. É preciso que o jovem ouça os seus pais explicarem que a tia Lola está a passar por uma dificuldade que causa sofrimento e faz com que esteja mais impaciente, triste e não consiga trabalhar, ou que o filho da Clara, a amiga da mãe, está a ser acompanhado no psicólogo porque sofre de ansiedade social, mas isto não significa que um ou outro tenha menos valor ou que deva ser colocado à margem. Tal consideração é ainda mais relevante quando se trata de uma doença mental agravada, como a esquizofrenia, por exemplo, explicando que se trata de uma doença carregada de estigma que afasta as pessoas do círculo social, aumentando o seu sofrimento.

Por outro lado, na adolescência, as mudanças biológicas, a necessidade de individualização e os factores de risco do ambiente associados ao forte peso da imaturidade emocional e social podem facilmente aumentar o risco do consumo de álcool e drogas, do envolvimento em situações de violência, de acidentes e da recusa à escola, sobretudo nos rapazes. Tais circunstâncias afastam-nos do sentimento de bem-estar e aumentam o risco de doença mental, sendo então outros temas necessários para uma conversa aberta em família.

Finalmente, além do investimento da família, vale a pena o investimento de políticas de saúde pública que se foquem na promoção da saúde mental das crianças e jovens. O Serviço Nacional de Saúde deve criar redes de ajuda efectivas em que as pessoas possam recorrer à ajuda profissional de forma fácil e acessível.

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